Imagem de capa: Anna Gribtsova, Shutterstock
Você sabe mais do que ninguém que teve uma grande participação em cada momento que vivemos juntos, sabe que ainda sinto o teu cheiro no meu travesseiro e por vez ou outra escuto a tua voz a me chamar, que sinto saudade da sua presença, do seu beijo e dos teus carinhos. Da sua mão macia acalentando meu rosto, do seu abraço apertado que me fazia perder o ar. Sinto falta de muito do que encontrei em você. Mas não, nem tudo o que digo e falo é sobre você.
Não são indiretas pra te fazer lembrar o quanto ainda gostaria que estivesse aqui, afinal foi você quem decidiu partir sem sequer olhar pra trás. Não são formas de me mostrar superior, de pagar de muito maduro e dizer que eu não me importo, que não sofro. Talvez não sofra tanto quanto já sofri, mas ainda hoje preciso lidar diariamente com o seu fantasma que me assombra sempre que me deito. Que me tira o sono e me faz querer correr até você. Não posso dizer também que não existe uma parte de mim que ainda te quer por perto mesmo você tendo deixado claro que já seguiu com sua vida e me esqueceu. Talvez seja uma irracionalidade minha. Culpa desse meu coração bobo que ainda bate acelerado quando vê uma foto sua ou seu nome em uma daquelas postagens do facebook. Talvez eu goste de me martirizar e sofrer por isso. Mas talvez seja só mais um talvez entre tantos que cismam de me assombrar.
Mas independente disso, eu continuo vivendo, continuo comendo as mesmas besteiras que te prometi largar. Deixei de beber a muito tempo atrás, quando sonhei que podíamos fazer dar certo, e veja só não deu certo, porém continuo sem beber. Já deixei o cabelo crescer, cortei, pintei, cortei de novo. Já saí pra correr, pra caminhar, já fui pra academia, parei de ir, voltei a ir e parei de novo. Afinal preciso continuar a viver. Já conheci novas pessoas, não novos amigos, colegas talvez. Escutei músicas novas, mas não abandonei as velhas, já comprei novos discos, novos livros, já comecei a ler alguns, terminei outros, tentei até escrever um e veja só ainda não acabei, mas um dia quem sabe eu termino e publico, e não vai ser sobre você pode ter certeza (pelo menos acho que não). Não vai ser sobre quem eu era antes de você, com você ou depois de você. Vai ser sobre alguma coisa que ainda não descobri, mas não demoro muito pra chegar lá. Também tenho uma vida a viver, uma vida cheia de altos e baixos é verdade, mas ainda assim é minha vida. E nada que eu diga hoje ou amanhã será sobre você.
Talvez algumas coisas me façam lembrar você, outras serão inspiradas em você, mas você nunca saberá. Serão apenas suposições suas a respeito do que digo, penso, faço ou escrevo não necessariamente nessa ordem. Talvez você ainda seja minha fonte de inspiração ou talvez não, jamais saberemos. Porque nem mesmo eu sei. Não sei mais até que ponto você faz parte das coisas que eu faço ou que escrevo ou que penso. Hoje sou um reflexo direto do que já vivemos e tivemos um dia. Sou parte daquilo que construí estando ao seu lado. Lapidei-me de acordo com que os anos foram se passando e não consigo determinar o quanto de você ainda existe em mim. Mas uma coisa fique sabendo, além desse, nem tudo é sobre você.