Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua
Imagem de capa: Marjan Apostolovic, Shutterstock
Tem alguns momentos da vida em que questionamos o quão ela pode ser injusta. Por exemplo, quando se é selecionado para uma vaga de trabalho. Ao chegar, descobrimos que é uma vaga temporária, sem qualquer expectativa de possível contratação. Querem apenas que você cubra férias de outro alguém. Passe um período pré-determinado e saia, sem deixar muitos vestígios. Com a vida amorosa, a coisa não parece ser diferente.
Em alguns momentos, concorremos à vagas que não são efetivas. Ocupamos espaços que já estão ocupados previamente. Cobrimos férias de amores passados, suprindo faltas e carências. Oferecemos tudo que a função exige: carinho, intimidade, confiança e respeito. No entanto, a experiência tem data marcada. Chega um momento em que não poderemos ser efetivados. Será preciso partir.
Seria simples se a função não correspondesse ao amor. Partiríamos sem criar vínculos. Contudo, a realidade não condiz com a teoria. Se, no trabalho, já não é fácil ocupar férias sem criar raízes, no amor, isso é praticamente impossível. Mesmo sabendo que estamos apenas a cumprir férias, a razão não dá conta de conter o envolvimento. Oferecemos amor e carinho e exigimos reciprocidade. Queremos ganhar a vaga a todo custo, ficar e mostrar que merecemos.
No entanto, amor não depende de merecimento. Ninguém é capaz de convencer o outro a nos escolher. O sentimento vai além de razões práticas, como “escolho você pela competência”. É impossível mensurar o que faz as pessoas escolherem uma coisa ou outra. Meros cobridores de férias poderão ocupar lugares que jamais alguém ocupou. Ou não. Porém, isso não depende apenas de nós. Não há como convencer o outro a efetivá-lo em uma relação.
A escolha que nos cabe é identificar até onde conseguimos “bancar”. Se aguentarmos estar apenas no lugar de cobrir férias, que assim seja. A questão é que, na maioria das vezes, cansa estar apenas de passagem. Cansa oferecer carinho somente para cobrir carências. Cansa se apegar e ter que partir, pois não há espaço para que fique. Cansa aceitar quem já tem prazo para nos “despedir”.
Por isso, ando a recusar propostas para cobrir férias. Quando, por acaso, caio em uma delas, exijo a certeza de que não estarei apenas de passagem. Talvez seja a idade, ou o cansaço diante de tantas decepções, mas prefiro a coerência com os meus próprios sentimentos. Escolho os vínculos, mesmo que eles me façam perder oportunidades. Busco a efetivação e, para isso, é preciso que encontre vagas abertas para tal.
Por aqui, há vagas.
Fonte indicada: Sem Travas na Língua
Caramba…essa bateu forte…Amei !!!!