Imagem de capa: AstroStar, Shutterstock
Eu te assustei? É, eu sei que exagerei ontem. Falei demais e hoje a ressaca não te deixa reagir. Pode falar, foi o álcool, o cigarro ou minhas palavras sinceras? A velocidade em que o mundo dá voltas te deixou tonto? Não se preocupe, eu sofro de labirintite. A intensidade é desconcertante mesmo. O momento escorreu por nossos dedos e essa falha tem nos angustiado. Eu também sinto.
Você se apaixonou pelo meu sorriso e eu me encantei com o seu olhar. É, concordo com você, naquela noite foi amor à primeira vista, mas ele era míope e não viu que perderíamos a linha pouco tempo depois. Mesmo com respeito e paixão, nada foi capaz de colocar nossas vidas no mesmo compasso. Perdemos o ritmo, pisei no seu pé e você esqueceu de me segurar.
Desculpe, mas eu tinha que te ligar, acho que te prometi isso durante nossa discussão ontem. Pergunto como você está, mas nem precisa responder. Eu sei que o vazio está habitando seu corpo hoje, ele também está habitando o meu. Dói constatar que nos deixamos quando tudo parecia se encaixar.
Eu te perdi de vista e você não me alcançou. Eu gritei seu nome e você fingiu não ouvir. Não adiantou me ligar 12 vezes, eu não atenderia. Suas flores não amoleceram meu coração e meus carinhos não abrandaram o seu. O medo faz morada, o pavor me dominou, chorei lágrimas de sangue e nada mudou. Você sofreu, calou e fingiu que o mundo parou. A gente não nasceu para esse amor. Ele foi nos matando até cair, finado, diante de nós.
Nos amamos como marginais e fomos, naquelas semanas, imortais.
Me dói dizer isso, mas hoje, não somos mais.
Descanse em paz.