Acaso, destino ou sorte?

Imagem de capa: HBRH, Shutterstock

Dezoito.

Esse foi o número de vezes que passei em frente a tua casa. Ensaiei bater somente duas vezes. As primeiras duas vezes. Depois decidi largar ao destino e só fiquei passando, esperando que um dia, por acaso ou sorte, eu me esbarrasse contigo. Coincidentemente. Bom, era isso que eu iria dizer. O discurso já estava mais que pronto, ensaiado, pinicando na ponta da língua.

— Que milagre você aqui! — eu exclamaria, numa careta falsa de espanto. Ou talvez eu realmente fosse ficar surpresa, porque não dá para estar cem por cento preparada para esbarrar no amor da vida.

Amor da vida? Não, eu não disse isso. Whatever. Então eu fingiria surpresa e você daria aquele meio sorriso que tanto adoro, mostrando covinhas nas bochechas — e eu lutaria para não soltar um suspiro audível demais nesse momento. Você passaria as mãos pelos cabelos e diria, levemente irônico.

— Mas ainda moro aqui. Esqueceu?

Talvez você piscasse, o que me faria contorcer todos os músculos e pensamentos só para me concentrar em: a) não suspirar audivelmente outra vez; b) não me jogar nos teus braços; c) todas as alternativas anteriores. Eu reviraria os olhos — isso sim é um fato. E fincaria as unhas na palma da minha mão, ao fechá-la com tanta força, só para me obrigar a ficar paradinha no lugar, esbanjando meu melhor sorriso.

Tava ensaiado. Eu fixaria meus olhinhos nos teus e torceria para que você pudesse ler todo o amor pulsando na minha retina. Haveria um silêncio constrangedor depois — outro fato — e eu estaria no alto do meu salto, balançando levemente os cabelos, me achando dona de mim e do mundo. Te abraçaria e respiraria com cuidado na base do teu pescoço, para você não perceber que eu estava, descaradamente, roubando teu cheiro para levar comigo. E torceria para que meu perfume ficasse nas tuas narinas e você ficasse doido de saudade de senti-lo nos teus lençóis.

Beijaríamos as bochechas. Você entraria em casa e eu seguiria caminhando, bem devagar, só para dar tempo de você associar o que tinha acabado de acontecer e voltasse gritando um Espera! no meio da rua. Eu esperaria e esconderia o riso antes de me virar. E você me chamaria para um café, que não tomaríamos, e nós nos perderíamos entre cama, sofás e chuveiro, jurando o amor que não deveríamos ter pontuado fim…

Dezoito. Esse foi o número de vezes que passei em frente a tua casa. Vi você entrar e sair catorze vezes.

E me escondi em todas elas.



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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