Imagem de capa: zjuzjaka, Shutterstock
Que saudade que eu estava de mim mesma!
Que alegria esse reencontro depois de um longo luto cego. Uma dor sem nome na alma que se esparramava e eu não sabia de onde vinha e nem sabia como voltava para os tempos em que eu era rudimentarmente eu.
Que saudade eu estava de mim mesma. Revivendo-me agora sorrio boba, com as mãos sujas de terra, com a roupa velha escolhida pela minha necessidade de liberdade e movimento.
Que saudade eu estava das minhas mãos na massa do meu próprio destino, construindo histórias e legados, que saudade do cabelo emaranhado, do sentimento de segurança e importância por ser rainha do meu umbigo e saber comandar um mundo de sonhos, por devagar e sempre e sorridente, galho por galho, pedra por pedra, saber modificar o meu entorno.
Que bonito esse reencontro que quase sem querer propiciei a mim mesma.
Que bom me esquecer dos espelhos, dos jogos, dos rótulos, dos medos. Que bom chorar por não querer parar o dia e pular da cama com vontade de viver. Que bom me vincular às pessoas pelas vontades de alma. Que bom não esperar mais de mim, dos outros, por não querer ser outra.
Que beleza esses meus braços abertos para mim mesma! Celebrando essa redescoberta quase impossível. Me reencontrando na alegria que me permiti nos dias. E dizendo-me: ‘bem-vinda! Bem-vinda! Até que enfim voltaste!’
Que saudade menina, que saudade!
Te abro as portas e janelas, te dou o tempo, as tardes, os sóis, as tempestades… Te deixo solta no seu mundo. Me ensina, me ensina! Porque eu já sabia viver, mas havia me esquecido. Porque eu já existia, mas havia morrido. Me refresque o peito, os olhos, os ouvidos… renasça alegremente em mim!
Me ajude a existir mesmo que eu não caiba neste mundo, menina.Que saudade eu estava de ser eu mesma!