Por Isabela Nicastro / Sem Travas na Língua
Isso é fato. É incrível como o ingrediente especial da atração é aquilo que não pode acontecer. Ou simplesmente aquela pessoa que não pode gostar da gente. Aquele cara que esnoba, o que está comprometido, o que é gay. Qualquer empecilho é válido para fazer com que a luz da atração se acenda. Mesmo que inconscientemente, acabamos escolhendo sempre o mais difícil. Não só o difícil, mas o que, geralmente, é impossível. O objetivo é claro: tornar possível o que já está fadado ao fracasso.
Gostar do que raramente pode dar certo é um desafio e tanto. É como andar em uma corda bamba. Com exceção dos mestres do slackline, sabemos que é impossível que um ser humano mantenha-se firme, por um bom tempo, em uma corda de poucos centímetros de largura. Por mais que você se arrisque e tente se equilibrar, a queda é inevitável. No entanto, insistimos em subir, por vezes, sem técnica alguma. Nos jogamos, simplesmente com o objetivo de nos testar. Vivemos a desafiar a própria capacidade na tentativa de reverter situações impossíveis.
O interesse pelo inalcançável parece vir justamente daí. Mais do que um desafio, é preciso que haja sucesso. Queremos a todo custo comprovar a nós e aos outros que somos capazes. Que podemos tornar possível o que todo mundo considera impossível. Não que não sejamos capazes de reverter determinadas situações, no entanto, há algumas que nos provocam um desgaste sem tamanho, sem qualquer evolução.
Lidar com uma atração que, na prática, tem pouquíssimas chances de dar certo é ter que conviver com a dúvida constante. E aí, ao invés de questionarmos a razão do interesse estar ligado justamente à impossibilidade, nos preocupamos em tentar fazer dar certo a todo custo. Queremos ser Deus a transformar a água em vinho. E, infelizmente, um copo de água jamais se transformará em uma belíssima taça de vinho, apenas pelo nosso desejo e dedicação.
Talvez seja o momento de mudar o foco da dúvida. Ao invés de questionarmos se pode dar certo, entender o motivo da atração surgir apenas com o impossível. O medo de ter um relacionamento faz com que nos sintamos atraídos justamente por pessoas que não estão disponíveis. Portanto, permita-se sentir atraído pelo o que também vem fácil. O fato de não precisar sofrer para conquistar, de forma alguma, nos torna menos merecedor.
Assim como podemos achar graça nas coisas simples da vida, então também somos capazes de nos atrair pelo que realmente pode dar certo. Por alguém que está ao nosso lado, disposto a fazer acontecer, por exemplo. Pelo amor livre e desimpedido. O sucesso não depende apenas do nosso esforço e muito menos do sofrimento. Em algumas vezes, ele vem suave, quietinho e aparece quando você menos espera. Aproveite para reconhecê-lo ali, no silêncio e na calmaria da possibilidade.
Fonte indicada: Sem Travas na Língua