Todos os dias vejo pessoas famintas por histórias de amor. Grandes fãs de poetas, de músicos e filósofos que escrevem lindas palavras para o ser amado, para as pulsações ambulantes e aceleradas. Não demora muito para embalarem o amor instantâneo de 3 minutos nas estantes do supermercado. A procura é grande. Amor é o business do momento. Se apaixonar por alguém é fácil como tirar uma carta no baralho, se apaixonar por uma ideia, por uma história – que só é bonita na sua cabeça – é muito fácil. Para isso, inventaram a modalidade crush. É a confirmação e aceitação da nossa incapacidade de encararmos os nossos sentimentos com honestidade. Juliana ama Maria que ama Paulo que já arranhou o disco do Chico de tanto ouvir a mesma canção.
Difícil é desenrolar um roteiro de longa metragem quando tudo o que se conhece é um curta de 5 minutos. Difícil é encarar a fome que tamborila nos pratos na hora do almoço, é descascar as batatas antes que sejam cozidas ou fritas, é quebrar os ovos antes que sejam mexidos ou com gema mole. Difícil é lembrar das uvas passas no mercado. Difícil é permanecer mesmo fazendo tudo errado. Mesmo o outro fazendo tudo errado. Mesmo dizendo exatamente aquelas palavras que o outro não quer ouvir. Difícil é rever escolhas que faria mais facilmente sozinho. Difícil é dividir um saco de sal, já que de açúcar todos estão fartos.
Estamos tão desesperados e tão preparados para um grande encontro, que não percebemos que o grande momento vem a passos lentos. Ao menor sinal de comprometimento, a paixão de farinha lactea vira mingau. Todos, pelo menos é o que as redes sociais dizem, querem amar. Mas poucos vivem corajosamente uma dança a dois. Permanecer apesar dos pisões no pé, apesar dos descompassos. Sintonia fina exige tempo, dedicação e paciência. Exige comprometimento. Assim como a rotina de trabalho que em dias de chuva você não quer levantar da cama ou como uma bela promoção porque sua competência agradou ao chefe. Tendo um bom ou mau dia, você precisa estar de pé.
Claro que na gangorra amorosa, o cálculo não é exato, mas é preciso ter em mente que amor é para quem ama alpinismo. Só aprecia a vista do alto quem enfrenta as adversidades da subida.
Muito bom!! É um pena que estejamos vivendo um período de tanta superficialidade e medo de sentir e demonstrar amor. Como se isso demonstrasse fraqueza.