Eu quero ser transbordada

Por Fernanda Campos

Depois de anos escrevendo sobre querer a metade da minha laranja. Depois de ter beijado sapos e ter me decepcionado ao ver que eles não viraram príncipes. Depois de ter tropeçado em corações errados. Depois de ter me apaixonado cegamente por pessoas sem muito valor. Depois de ter achado, fielmente, que precisava de outra pessoa pra viver. Depois de tanto errar e me machucar, eu finalmente decidi que a solidão é boa. Não, eu não quero morar em um apartamento com sete gatos e morrer virgem. Não é isso. A minha solidão me ensinou que eu sou inteira e que eu não preciso da minha metade, porque ela já se encontra em mim. A minha solidão me ensinou que amor é algo bem oposto ao que eu achava que era.

Eu quero alguém que também seja inteiro, porque chega — repito: chega! — de gente meia-boca tropeçando nos meus passos. Chega de gente indecisa, sem horizontes e sem tesão pela vida. Eu quero alguém que tenha planos, objetivos, metas, gostos diferentes dos meus, individualidade. Alguém que me ensine coisas novas e produtivas e que também permita que eu ensine. Não quero alguém que viva na minha sombra e, muito menos, viver na sombra de alguém. Quero alguém que segure a minha mão e caminhe do meu lado. Quero alguém que divida o chão comigo e, quando necessário, que saia dele ao meu lado, também.

Eu quero aderir a filosofia de Cazuza: um amor tranquilo com sabor de fruta mordida. Não, eu não quero portas batidas na cara, ligações não atendidas e mensagens ignoradas. Eu quero encontros de corpo, alma e coração. Eu quero um coração inteiro batendo ao lado do meu. Eu quero alguém que se entregue todo e completamente pra mim e quero me entregar também. Quero alguém que some sua felicidade a minha, mas que nunca se sinta dependente disso pra sua própria satisfação. Quero um ombro pra dividir os anseios e angústias, um amigo pra tomar vinho e discutir Caetano e um bom parceiro de aventuras loucas e, algumas, nem tão loucas.

Eu quero amor! Eu quero alguém que me arranque gargalhadas e orgasmos. Eu quero sexo na escada, vinho no sábado de madrugada e shows agarradinhos. Eu quero passeio de mãos dadas, piadas idiotas e muita pipoca com refrigerante. Eu quero cama, box e cozinha. Eu quero planos, risos, viagens, fotografias, brigas e reconciliações. Eu quero alguém pra somar ao meu inteiro. Alguém pra dividir algumas coisas e multiplicar outras. Eu quero alguém que me transborde, por que completa, meu bem, completa eu já sou.

via Uma Dose de Café



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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