Dia desses, conversando com alguns amigos, comentávamos sobre ter ou não ter sido um bom(a) aluno(a) na época do colégio. Brincando, um amigo comentou: eu era um péssimo aluno. Porque deste modo eu acostumei minha mãe a esperar pouco de mim, e então ela acabou se adaptando e não me cobrava. De repente, do nada, eu ia bem numa prova, e então era aquela surpresa e ela ficava feliz com o mínimo.
Rimos da esperteza do meu amigo e refleti sobre a analogia que ele fez.
Assim como o filho que tem preguiça de estudar e não quer decepcionar a mãe repetidas vezes – por isso oferece o mínimo para que ela não crie expectativas – encontramos por aí pessoas que também oferecerão o mínimo na esperança de que o outro se acostume. E, de repente, se acontece alguma boa surpresa pelo caminho, é algo a ser celebrado.
Porém, em se tratando de reciprocidade, é difícil conviver com alguém que oferece o mínimo.
A avareza é definida como “dificuldade e o medo de perder algo que possui, como bens materiais e recursos. Uma pessoa avarenta é popularmente chamada de pão-duro, mão-de-vaca, unha-de-fome ou muquirana. Uma pessoa avarenta tem dificuldade de abrir mão do que tem mesmo que receba algo em troca, tem cuidado com seus pertences e é uma pessoa egoísta. Prefere abrir mão do que tem menos valor e preservar o que é mais valioso. Acha que perder algo pode ser um desastre”.
Assim, acredito que os avarentos afetivos se sentem ameaçados de alguma forma: medo de serem dominados, medo de se envolverem, medo de parecerem fracos, medo de perderem o respeito, medo de se tornarem “fracos”, medo de perderem o controle e, principalmente, medo de perderem a liberdade.
Pois uma coisa é querer ir devagar quando a relação está começando – não se pode mergulhar de cabeça num lago escuro. Outra coisa é estar se relacionando com alguém há anos e, ainda assim, oferecer o mínimo para não criar expectaivas no outro, ou mais do que isso, para não se envolver.
Muito se fala em mendigos afetivos, mas pouco tem se comentado sobre os avarentos afetivos – aqueles que se abrem pouco para a relação, comunicam o mínimo, deixam de compartilhar trivialidades porque se sentem invadidos, impõem limites a tudo, não se permitem estar vulneráveis, apenas correspondem e nunca tomam a iniciativa de demonstrar o que sentem, mantêm a porta entreaberta – para não te perder – mas nunca a abrem completamente ou fecham de uma vez.
No site “A mente é maravilhosa” lemos: “O avarento, ou economizador patológico, é reconhecido porque evita fazer gastos que poderia perfeitamente fazer, sem que lhe cause nenhum problema”. Assim, só posso concluir que o aluno que evita tirar notas boas para que a mãe não crie expectativas, é um menino inteligente, por vezes acima da média. Porém, ele evita agradar a mãe – algo que estaria facilmente ao seu alcance – porque não quer ser “sequestrado” pela expectativa dela, algo que poderia facilmente tolhir sua liberdade.
Avarentos afetivos funcionam da mesma maneira. Acreditam que podem ser sequestrados emocionalmente pelos outros, e por isso se blindam. Evitam criar vínculos profundos, não se expõem, não correm riscos, oferecem o mínimo e acreditam que qualquer palavra ou gesto sentimental pode ser usado contra eles “no tribunal”.
Assim como avarentos financeiros não gostam de ser abordados por qualquer tipo de vendedor, avarentos afetivos encaram qualquer descontentamento como cobrança ou reclamação. Têm fobia de ouvir, encaram qualquer ajuste como crítica, acusam o outro de sempre estar descontente ou cobrando.
Sem perceber, avarentos afetivos prejudicam a si próprios. Assim como o menino que evita estudar para que a mãe não crie expectativas – e assim se priva do benefício de aproveitar a própria inteligência e ser um excelente aluno – o avarento afetivo se refugia na prisão do medo e se priva de viver relações verdadeiras, baseadas no vínculo que nasce da vulnerabilidade e do risco de viver um grande amor.
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