Idosa que começou a trabalhar com 95 anos compartilha lição de vida: “Ter o próprio dinheiro é liberdade”

Aos 95 anos, Dona Aspasia d’Avila vive uma história que inspira e desafia padrões. A idosa, que nunca havia trabalhado fora, começou a empreender com artesanato e alcançou grande sucesso nas redes sociais, onde já é uma pequena celebridade. Em entrevista ao Estadão, ela compartilhou detalhes de sua nova rotina, revelando como a independência financeira transformou sua vida.

Morando sozinha e realizando suas tarefas diárias com autonomia, como cozinhar e cuidar de si mesma, Dona Aspasia relembra que sua vida nem sempre foi tão independente. Ela casou-se aos 17 anos e passou a maior parte da vida dedicada à família, cuidando dos três filhos e do marido. Com a proibição do marido para trabalhar fora, ela conta que dependia financeiramente dele, algo que a incomodava: “Eu ficava bem zangada quando ele me perguntava para que eu precisava do dinheiro quando eu pedia. Falava que era para ele fingir que estava me pagando por cuidar dele e dos filhos”.

Com os filhos adultos, Dona Aspasia decidiu, na terceira idade, explorar o mundo do artesanato, inicialmente por hobbie. Ela aprendeu crochê de forma autodidata e, mais tarde, se especializou na técnica japonesa de amigurumi, confeccionando bonecos de crochê. Mesmo que seus primeiros trabalhos tenham sido, nas palavras dela, “bem horrorosos”, com o tempo e a prática eles passaram a ganhar forma e qualidade, tornando-se um sucesso nas redes sociais. Sua neta criou um perfil no Instagram para divulgar as criações, e a produção de Dona Aspasia explodiu. Somente durante a pandemia, ela estima ter vendido cerca de 700 bonecos, conquistando clientes no Japão, Canadá e Portugal.

“Eu tenho muito orgulho do meu trabalho. Vejo as pessoas agradecerem, mandarem mensagens e isso me deixa muito feliz”, diz Dona Aspasia, revelando a satisfação em ver o reconhecimento que recebe pelo talento desenvolvido. E o sentimento de realizar pela primeira vez uma compra com o próprio dinheiro foi, segundo ela, “libertador”. “A sensação de comprar uma coisa com o meu próprio dinheiro foi libertadora. Eu adorei a sensação de olhar algo, gostar e comprar. Comprei muitas coisas, até uma geladeira”, comemora.

Mais do que talento com as agulhas, Dona Aspasia é exemplo de disposição e positividade. A idosa afirma manter uma atitude mental otimista em relação à vida. “Eu tenho muita vontade de fazer as coisas. Sou muito positiva, não fico me lamuriando. Pra mim tudo o que acontece tem de acontecer. Enquanto isso, você se mantém ocupada.”

Sem medo da idade e levando a vida com serenidade, Dona Aspasia finaliza com a sabedoria de quem já viveu quase um século: “Eu não penso em viver ou morrer. Eu vou vivendo enquanto Deus quer. E procuro tirar o melhor disso.”