Fabíola Simões

Uma porta entreaberta dói bem mais que uma porta fechada

Dia desses viralizou no TikTok o vídeo de uma moça que estava indo fazer as unhas pela quinta vez na esperança de ser pedida em casamento. No vídeo, ela dizia que o relacionamento já durava 6 anos, e ela tinha dado um prazo de um ano e meio para que o namorado fizesse o pedido. O prazo havia terminado, e por isso ela estava com esperança de que ficaria noiva. Porém, nem ela mesma acreditava nisso, pois já era a quinta vez que criava expectativas e não acontecia nada.

A moça se expôs e o vídeo viralizou da pior maneira possível. Todo mundo dando pitaco na vida dela, todo mundo opinando contra o namorado, toda audiência falando que ela deveria romper com o moço e seguir a vida longe dele.

É muito fácil a gente olhar de fora e apontar o dedo dizendo que ela está perdendo tempo, se colocando numa posição humilhante, que deveria acabar com tudo e seguir a vida longe dele. Porém, ninguém sabe como é realmente o relacionamento deles a partir de um vídeo de poucos minutos. Ninguém tem a mínima ideia da bagagem emocional de cada um, da maturidade, dos aprendizados e traumas ao longo da vida. Dito isso, acredito que o único termômetro para que essa moça enxergue onde está pisando e onde quer chegar deveria ser algo aparentemente muito simples: como ELA se sente dentro dessa relação.

Ela está feliz? Não se sente angustiada tendo que cobrar algo que deveria ser espontâneo? Não se sente frustrada por perceber que ele não faz questão de olhar para o sonho dela e fazer algo a respeito? Não se sente ansiosa e em constante expectativa esperando pelo momento dele, pela hora conveniente para ele? Ela prefere ter esse homem – do jeito que ele é – a não tê-lo?

O que Mariana Dias – a moça do vídeo – já deve ter sentido é que uma porta entreaberta pode doer bem mais que uma porta fechada. Pois viver em constante expectativa e esperança, à mercê da atitude ou decisão de outra pessoa é muito mais angustiante do que conviver com um simples, claro e direto “não”. A dúvida pode ser mais angustiante que a rejeição. Pois quem provoca incerteza está gerando pequenas rejeições diárias, a conta-gotas, que vão minando a autoestima e a autoconfiança de quem aguarda, sem colocar um ponto final ou fechar a porta de uma vez.

Quem ama oferece chaves, escancara a porta para você passar e te dá a certeza de que aquela porta está aberta para você. Quem ama não te deixa na dúvida, não te oferece uma porta meio aberta, meio pesada para você empurrar. Quem ama te dá a clareza do que sente e pode oferecer, não te fazer se sentir mal dentro da relação, não a obriga a explicar de que forma quer ser tratada.

Uma porta entreaberta pode doer muito mais que uma porta fechada, pois quem mantém a porta “pela metade” só age segundo seu próprio tempo e vontade, o que é conveniente para si mesmo, sem respeitar ou levar em consideração os sonhos ou desejos da outra pessoa. Quem mantém a porta entreaberta busca obter vantagem sem oferecer o mesmo, investe o minimo para receber o máximo, não prioriza quem o coloca em primeiro lugar.

Não existe final romântico em “morrer de amor”. Porque amor não mata, não destrói, não nos torna tristes ou piores – piores para nós mesmos. Amor é quando você atravessa portas escancaradas, nunca “meio” abertas, nunca “meio” trancadas, “meio” na dúvida.

Amor é claro. Amor é porta escancarada. Amor é direto e sem rodeios. Amor não joga, não pune com silêncio, não gera dúvidas nem te confunde ao ponto de achar que está ficando louca(o). Amor não inverte os fatos para te fazer sentir culpa nem distorce a história para que você se arrependa de ter estipulado limites.

Uma porta entreaberta pode doer muito mais que uma porta fechada porque a porta entreaberta confunde. Confunde ao ponto de você agradecer por estar recebendo o mínimo e não entender porque se sente tão mal quando ele some, não leva em consideração seus sentimentos, não a prioriza como deveria. A porta entreaberta exerce controle sobre você, pois falas enganosas e comportamentos confusos são formas de manipulação e você se pergunta se está exagerando, fazendo drama ou se protegendo demais.

Talvez um dia Mariana seja pedida em casamento, talvez não. Mas o fato dela ter que dar um prazo ou ter que dizer diversas vezes de que forma quer ser tratada é uma red flag gigantesca. Consideração a gente não cobra. Respeito a gente não exige. Se uma pessoa que você ama não leva em consideração seus maiores desejos ou não respeita a forma como você quer ser tratada (o), essa pessoa não merece estar na sua vida. Se você diz ao outro que algo o machuca e o outro continua agindo como se aquilo não tivesse importância alguma, está na hora de fechar essa porta e colocar um ponto final.

E, depois disso, não permita que alguém que já a magoou tenha acesso a você novamente. Não justifique o injustificável, não releve comportamentos abusivos, não se culpe nem se arrependa por ter colocado limites. Feche essa porta e jogue a chave fora. Descubra que, mais importante que romper com essa pessoa, você precisa aprender a romper com este mau hábito de permitir que as pessoas façam isso com você. A vida é recíproca com quem se trata bem.

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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