A paternidade, muitas vezes, é envolta em expectativas e receios. Mas, por que tantos homens têm medo de ser pais? Essa pergunta, aparentemente simples, revela uma complexidade maior quando analisamos a construção social em torno da figura masculina e sua relação com o ato de cuidar. Em um relato pessoal e tocante à Revista Pais e Filhos, Eliezer, que recentemente embarcou na jornada de ser pai, compartilha sua experiência e reflete sobre os desafios enfrentados pelos homens ao assumirem a paternidade.
“Depois que comecei a minha jornada paterna, me descobri como pai”, afirma Eliezer. Ele relata a responsabilidade assustadora que sentiu ao segurar nos braços um bebê que dependia dele para tudo, sem sequer saber o próprio nome. A princípio, o peso dessa responsabilidade parecia esmagador, mas, com o tempo e as trocas de fraldas, o que era um fardo transformou-se em uma paixão crescente. “O que antes era assustador se torna apaixonante”, compartilha.
Essa mudança de perspectiva levou Eliezer a se questionar: por que ele nunca havia desejado ser pai? A resposta, segundo ele, está profundamente enraizada na forma como os homens são criados. “Nós não fomos criados para isso”, reflete. Historicamente, o cuidado sempre foi considerado um atributo feminino, e qualquer ação associada a essa esfera era vista como um risco à masculinidade. Isso criou uma barreira psicológica para muitos homens, que, como Eliezer, cresceram acreditando que não eram capazes de cuidar — nem de si mesmos, muito menos de um filho.
“Eu me olhava no espelho e pensava ‘eu não sei cuidar de mim, imagina de um filho'”, confessa. Esse sentimento não é único. Ele aponta que o receio masculino de assumir o papel de cuidador está presente no dia a dia, seja na frase “cadê a mãe dessa criança?” ou na dúvida que surge quando um pai tenta tomar a frente de uma situação: “você vai dar conta?”
Essa insegurança, segundo Eliezer, contribui para um problema muito maior: o abandono paterno. O medo de não estar à altura das responsabilidades, aliado à falta de exemplos de paternidade ativa, faz com que muitos homens se distanciem emocionalmente de seus filhos ou até mesmo abandonem o papel de pai. “Minha insegurança com a paternidade vinha muito desse lugar”, reflete. “Hoje é claro pra mim que isso acaba agravando alguns cenários de abandono paterno e a falta de disponibilidade afetiva do pai com a criança.”
A solução, ele acredita, está na visibilidade e na desconstrução desses “mitos” sobre a paternidade. Homens que assumem seu papel de cuidadores precisam ser mais ouvidos e vistos, para que outros homens possam se inspirar e desmistificar a ideia de que não são capazes de cuidar. Eliezer enfatiza a importância desse movimento para reduzir os índices preocupantes de abandono paterno e falta de registro do pai nas certidões de nascimento.
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