O fenômeno dos chamados “divórcios grisalhos” – quando casais de 50 anos ou mais decidem se separar após décadas de casamento – tem sido cada vez mais observado. Embora pareça contraditório, muitos casais só percebem, após anos de convivência, que a relação não é mais sustentável.
Segundo um estudo recente publicado no Journal of Social and Personal Relationships e publicado pelo MSN, a separação após anos de casamento costuma seguir um processo em duas fases. A primeira envolve uma insatisfação prolongada, na qual os cônjuges permanecem juntos, mas começam a se afastar emocionalmente. A segunda fase ocorre quando, após anos de tensão acumulada, o casamento atinge um ponto sem retorno, levando à decisão final de divórcio.
Muitos casais relatam viver anos de insatisfação antes de tomar a decisão de se divorciar. Fatores como infidelidade, abuso verbal, controle excessivo e diferenças de caráter contribuem para o distanciamento gradual. Além disso, o desenvolvimento pessoal de um dos parceiros pode criar uma lacuna, à medida que o outro não acompanha essas mudanças.
A história de Rachel, de 68 anos, é um exemplo. Ela conta como a traição e o distanciamento de seu marido, Dan, a desgastaram ao longo dos anos: “Ele estudava com meninas de vinte e cinco anos e, de repente, tirou a carteira de motorista de motocicleta, e não aparecia mais para casa. […] Eu realmente queria me divorciar há muito, muito tempo, mas o argumento era não desmembrar a família”.
Dan, por sua vez, revela que seu crescimento pessoal o afastou de Rachel: “Um mundo incrível se abriu para mim, no qual eu queria muito, muito que minha ex-esposa fosse minha parceira. […] O divórcio foi essencialmente uma parada final em um processo que havia começado anos antes”.
Em muitos casos, os casais adiam o divórcio por razões familiares ou financeiras. A pressão de manter a unidade familiar para os filhos e o medo do estigma social associado à separação retardam a decisão, mesmo quando a insatisfação é evidente.
Com o passar do tempo, eventos específicos podem expor a fragilidade da relação e servir como um ponto sem retorno, culminando no divórcio. Esses eventos podem incluir infidelidades flagrantes, desonestidade financeira ou episódios graves de abuso emocional.
Miriam, de 69 anos, decidiu se separar após uma traição pública de seu marido, David: “O ponto sem retorno foi a festa de 60 anos de David, para a qual várias das parceiras românticas do marido foram convidadas. […] A exposição pública de um relacionamento conjugal ruim nos força a enfrentar a realidade do casamento”.
Já Jacob, de 66 anos, sentiu-se desvalorizado pela esposa, Sarah, e sua infidelidade foi o estopim para a separação. Mas o ponto final de Jacob veio de um gesto aparentemente simples: “Na véspera de um feriado, comprei presentes para todos e os entreguei para minha esposa e filhos. Ela me diz: ‘não comprei nada para você, vá ao centro amanhã e compre algo para você mesmo.’ […] Tomei uma espécie de decisão de que os 20-25 anos que me restam, iria vivê-los como achasse melhor”.
Apesar das emoções complexas envolvidas no processo de divórcio, os “divorciados grisalhos” demonstram resiliência e determinação em buscar a felicidade e o crescimento pessoal. Ruth, de 68 anos, compartilha como as diferenças de personalidade e a falta de comunicação desgastaram seu casamento, mas ela precisou amadurecer para perceber isso: “Por muitos anos eu quis me divorciar, e provavelmente não fui forte o suficiente para fazer isso”.
O divórcio grisalho muitas vezes surge de um processo longo e doloroso, em que os casais enfrentam mudanças pessoais profundas e se veem diante de uma decisão inevitável.
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