A notícia de que a influenciadora Isabel Veloso, de 18 anos, está grávida surpreendeu seus seguidores neste domingo (11). Isabel, que enfrenta um câncer terminal e está em tratamento paliativo, anunciou que espera seu primeiro filho, fruto do recente casamento com Lucas Borbas. A revelação levantou uma série de dúvidas sobre os desafios e as possibilidades de uma gestação em pacientes com o diagnóstico de Isabel.
Segundo especialistas, a gravidez durante os cuidados paliativos para câncer terminal envolve uma série de desafios médicos e éticos. A médica paliativista Michele Andreata, da Saúde no Lar, destacou ao Terra que a principal preocupação nesse contexto é a saúde tanto da gestante quanto do feto, especialmente considerando que os tratamentos paliativos podem incluir medicações ou procedimentos que impactam negativamente a gravidez. “Do ponto de vista ético, há o dilema de equilibrar o desejo da paciente de continuar a gestação com a necessidade de aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida, considerando a expectativa de vida limitada”, explicou Andreata.
A especialista reforça que, nesses casos, o bem-estar da paciente e do feto é avaliado de maneira contínua e integrada, levando em conta aspectos físicos, emocionais e sociais. A prioridade, segundo ela, é sempre a paciente, mas o feto é considerado em todas as decisões. A continuidade da gravidez e o uso de medicações e intervenções são discutidos de maneira multidisciplinar, com respeito à autonomia da paciente e às suas escolhas informadas.
“Cada caso é único, exigindo uma abordagem personalizada que inclua a avaliação frequente das condições da mãe e do feto, além de ajustes no plano terapêutico conforme a evolução do quadro”, afirmou Andreata, destacando a importância da colaboração entre a equipe de cuidados paliativos, oncologistas e obstetras para oferecer um suporte integrado.
Apesar dos avanços nos protocolos adaptados para a gestão de gravidezes em pacientes sob cuidados paliativos, existem contraindicações importantes. Andreata aponta que fatores como o estágio avançado do câncer com prognóstico muito limitado, presença de sintomas graves que necessitam de terapias teratogênicas ou incompatíveis com a gravidez, e o estado funcional comprometido da paciente podem tornar a gravidez inviável. “A manutenção da gravidez pode representar um risco significativo tanto para a mãe quanto para o feto”, alerta a médica.
O oncologista Daniel Gimenes, da Oncoclínicas São Paulo, ressaltou que o maior desafio em casos como o de Isabel é levar a gestação até o fim, especialmente quando o câncer já está em estágio muito avançado. Gimenes explica que o câncer, em si, não se agrava devido à gestação, mas o tratamento ideal para a doença pode ser limitado durante a gravidez. “O problema maior é que, quando o prognóstico é de uma paciente já com o câncer muito avançado, ficamos na dúvida se a paciente conseguirá levar a gestação até o fim. Esse é o maior desafio”, afirmou o oncologista.
Segundo Gimenes, os tratamentos oncológicos são restritos no primeiro trimestre da gestação e, após esse período, as opções ainda são limitadas. O especialista também destacou que, para pacientes com câncer terminal que desejam engravidar, as chances de sucesso, mesmo com tratamento assistido, são muito reduzidas. “Quando uma paciente está em tratamento, já realizou diversas quimioterapias, provavelmente ela já está infértil. A maioria dos quimioterápicos promove uma menopausa transitória ou definitiva”, explicou Gimenes, que considera “bastante difícil” que uma gravidez ocorra de forma natural ou assistida nesses casos.
Isabel anunciou sua gestação no domingo (11), e muitos de seus seguidores interpretaram a notícia como um “milagre”. Para os médicos, a decisão de prosseguir com a gravidez em meio a um tratamento tão complexo exige um equilíbrio delicado entre o desejo da paciente e os riscos à sua saúde. “O oncologista tem como prever, de uma certa forma, que riscos essa paciente tem de interromper seus tratamentos ao tomar sua decisão de ser gestante em detrimento da sua saúde. Precisamos sentir o quanto essa gestação pode atrapalhar a qualidade de vida dela”, concluiu Gimenes.
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