Fabíola Simões

Abrande sua pressa e confie no processo

Dia desses meu filho pediu que eu fizesse pipoca. Não que ele não saiba fazer, mas a pipoca que ele faz fica cheia de piruás. Daí pensei que pipoca é um troço delicado. Se a gente deixa pouco no fogo, ela não estoura. Se a gente deixa muito, ela queima. Assim, há o momento certo de desligar a chama. E o segredo é você ficar atento ao barulho que acompanha o estouro dos grãos. No começo, o intervalo entre um pipocar e outro é bem curto, e o milho está sensível ao calor. Depois de alguns instantes, o intervalo entre um irromper e outro se torna maior, e talvez seja a hora de desligar o fogo. Assim, o segredo está na percepção do tempo. Cada grão tem seu próprio tempo, assim como a gente na vida.

Atropelar o tempo do outro, quando o outro tem um ritmo mais lento, soa como agressão. Querer que o outro ande no nosso passo, quando o compasso dele é mais tardio, repercute como desrespeito. Frear nossa ansiedade, quando as respostas que buscamos não dependem só da gente, é sinal de maturidade.

Quando você está ansioso demais, desejando uma resposta imediata, e faz uma cobrança, você na verdade está colocando a panela em fogo alto – e o efeito é que você queima o milho de pipoca, ao invés de apenas permitir que ele estoure.

Quando você aprende a esperar, sem cobrar, deixando o outro livre para andar no tempo dele, você está colocando a panela em fogo brando, e duas coisas podem acontecer: Ou o milho de pipoca não estoura e permanece sendo grão, ou ele pode estourar e ser a melhor pipoca que há. Abrande sua pressa e confie no processo.

Quem o ignora, pede silêncio. Que o ignora, pede tempo. Quem o ignora, pede espaço. Não force a comunicação, a reciprocidade, o fogo alto quando isso pode agredir o outro. Se afaste, abrande suas emoções, dê uma pausa na comunicação e ampare sua ansiedade com outra atividade.

Se te causa desespero pensar que não aqueceu a panela o suficiente para o milho se tornar pipoca, acalme seu coração. Nem tudo depende só da gente ou do que a gente fez ou deixou de fazer. Alguns milhos nunca se tornarão pipoca, por mais calor que a gente coloque. Isso faz parte da natureza daquele grão, e não do quanto nos esforçamos para que ele se transformasse.

Por mais que você queira controlar, você não controla nada. E às vezes a única coisa que você realmente pode fazer por si mesmo e pelo outro é se afastar e silenciar. Desligar o fogo quando a pipoca parou de estourar, mesmo que restem centenas de piruás, evita que o milho queime e o recipiente pegue fogo.

O mundo está aí para nos confudir e iludir, levantar e derrubar, oferecer e pedir de volta. Vida é tentativa e erro; e quem não dança conforme a música, fica sem fôlego ou tropeça no próprio pé. Não há lógica nenhuma na existência, e querer que ela siga o que planejamos é nadar contra a corrente. Aceitemos que nem tudo a gente pode controlar, e está tudo bem. Há dias em que tudo fluirá, e há outros em que faltará sentido e esperança. Entre altos e baixos, confiemos na Sabedoria Divina e aceitemos a felicidade acessível e possível – feito pipoca bem estourada antes do filme começar.

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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