Dia desses meu filho pediu que eu fizesse pipoca. Não que ele não saiba fazer, mas a pipoca que ele faz fica cheia de piruás. Daí pensei que pipoca é um troço delicado. Se a gente deixa pouco no fogo, ela não estoura. Se a gente deixa muito, ela queima. Assim, há o momento certo de desligar a chama. E o segredo é você ficar atento ao barulho que acompanha o estouro dos grãos. No começo, o intervalo entre um pipocar e outro é bem curto, e o milho está sensível ao calor. Depois de alguns instantes, o intervalo entre um irromper e outro se torna maior, e talvez seja a hora de desligar o fogo. Assim, o segredo está na percepção do tempo. Cada grão tem seu próprio tempo, assim como a gente na vida.
Atropelar o tempo do outro, quando o outro tem um ritmo mais lento, soa como agressão. Querer que o outro ande no nosso passo, quando o compasso dele é mais tardio, repercute como desrespeito. Frear nossa ansiedade, quando as respostas que buscamos não dependem só da gente, é sinal de maturidade.
Quando você está ansioso demais, desejando uma resposta imediata, e faz uma cobrança, você na verdade está colocando a panela em fogo alto – e o efeito é que você queima o milho de pipoca, ao invés de apenas permitir que ele estoure.
Quando você aprende a esperar, sem cobrar, deixando o outro livre para andar no tempo dele, você está colocando a panela em fogo brando, e duas coisas podem acontecer: Ou o milho de pipoca não estoura e permanece sendo grão, ou ele pode estourar e ser a melhor pipoca que há. Abrande sua pressa e confie no processo.
Quem o ignora, pede silêncio. Que o ignora, pede tempo. Quem o ignora, pede espaço. Não force a comunicação, a reciprocidade, o fogo alto quando isso pode agredir o outro. Se afaste, abrande suas emoções, dê uma pausa na comunicação e ampare sua ansiedade com outra atividade.
Se te causa desespero pensar que não aqueceu a panela o suficiente para o milho se tornar pipoca, acalme seu coração. Nem tudo depende só da gente ou do que a gente fez ou deixou de fazer. Alguns milhos nunca se tornarão pipoca, por mais calor que a gente coloque. Isso faz parte da natureza daquele grão, e não do quanto nos esforçamos para que ele se transformasse.
Por mais que você queira controlar, você não controla nada. E às vezes a única coisa que você realmente pode fazer por si mesmo e pelo outro é se afastar e silenciar. Desligar o fogo quando a pipoca parou de estourar, mesmo que restem centenas de piruás, evita que o milho queime e o recipiente pegue fogo.
O mundo está aí para nos confudir e iludir, levantar e derrubar, oferecer e pedir de volta. Vida é tentativa e erro; e quem não dança conforme a música, fica sem fôlego ou tropeça no próprio pé. Não há lógica nenhuma na existência, e querer que ela siga o que planejamos é nadar contra a corrente. Aceitemos que nem tudo a gente pode controlar, e está tudo bem. Há dias em que tudo fluirá, e há outros em que faltará sentido e esperança. Entre altos e baixos, confiemos na Sabedoria Divina e aceitemos a felicidade acessível e possível – feito pipoca bem estourada antes do filme começar.
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