De vez em quando a gente quer se iludir e passar um tempo acreditando nas ilusões que nosso coração inventa. Caio Fernando já dizia: “Eu quis tanto ser a sua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro…” e assim acreditou que seria. Mas não foi. Porém, por algum tempo essa ilusão o fez feliz. De vez em quando a gente prefere acreditar nas mentiras que mantém nosso emocional em paz do que encarar as verdades que irão nos abalar por completo.
Não defendo a mentira, e sou a primeira a levantar a bandeira do “Gosto que me digam a verdade. Eu decido se ela dói ou não”. Porém, excesso de verdade pode machucar também. Como naquele momento em que bate uma insegurança e você deseja saber se engordou. O que você deseja, lá no fundo, é ser acolhida. Porém, algumas pessoas serão francas demais, e o efeito pode ser devastador.
Outro dia, ouvindo um podcast, escutei uma frase polêmica pronunciada por um homem. De imediato a frase soou um tanto machista e desleal. Porém, analisando mais de perto, pude concordar em parte com o que ele dizia. Era algo mais ou menos assim: “Homem quando mente, é porque gosta da mulher. Quando o homem assume: “estou fazendo mesmo e dane-se”, aí é porque ele não se importa mais. Se ele mente, é porque ele não quer perdê-la”. Antes que me apedrejem, eu explico. Algumas verdades podem ferir. Independente de ser homem ou mulher, franqueza demais num relacionamento pode significar que a pessoa não se importa em magoar a outra. Não me refiro à traição, e sim sobre cuidar para que a honestidade sem filtro não machuque demais quem você ama.
Cazuza cantava os versos: “O teu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer” e hoje, sem querer, me pego concordando com o poeta. A gente se sente amado quando o outro diz que nos ama, quando garante que não irá nos abandonar, quando demonstra que somos inteligentes e atraentes. Se é verdade ou não, não interessa. Gostamos de acreditar nessas mentirinhas que nos trazem paz e segurança. Honestidade é fundamental em um relacionamento mas, em excesso, pode ser brutal.
Há os que tentam manter o outro inseguro, dependente emocionalmente e refém da incerteza através da manipulação. Palavras sinceras nem sempre são bem vindas quando o objetivo é gerar dúvida, tristeza e insegurança.
Gestos podem dizer mais que palavras. Porém, num mundo conectado como o nosso, é preciso ter cuidado com as palavras. Com as duras verdades que atiramos em mensagens, posts, textões. Há limites para as opiniões sinceronas, para aquilo que entregamos ao outro sem nos preocupar se ele está preparado para ouvir.
Um dia, alguém que você ama lhe fará uma pergunta esperando receber algum tipo de apoio ou segurança. É preciso sensibilidade para pisar no terreno delicado do coração do outro. O amor carece de cuidado e empatia. De brecar a opinião sincerona demais e dar trégua às verdades que machucam e destroem. Há conversas duras das quais o outro pode nunca mais se recuperar…
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