Cecília era uma mulher intensa. Do tipo que, quando ficava triste, se desidratava. Quando ficava feliz, cintilava. Quando amava, transbordava. Quando sofria, se despedaçava. Por isso, tinha muito medo de se quebrar em pedacinhos tão miúdos que seriam difíceis de colar. Assim, preferia sofrer a conta gotas, remendando com cola instantânea os caquinhos diários a se estilhaçar de uma vez e para sempre.
Muitas vezes, para evitar discussões, a gente congela. Para fugir de brigas, a gente engole sapos. Para não entrar em embates, a gente releva. Para não desgastar o relacionamento, a gente se cala. Para não perder a amizade, a gente diz “sim” quando gostaria de dizer “não”. Para não causar stress, a gente finge que não liga. Para não contrariar o outro, a gente se contraria.
Se você acredita que precisa se ferir para não ferir o outro; se contrariar para não contrariar o outro; se desvalorizar para manter o outro por perto; talvez você tenha sido tão machucado que entendeu tudo errado. E acredita que não é possível alguém te amar se você se posicionar, dizer que prefere de outra maneira, negar um favor.
Mas deixa eu te contar: as pessoas não ficam porque você aceita tudo, releva tudo, fala tudo o que elas querem ouvir. As pessoas podem até se aproveitar dessa docilidade; mas geralmente ficam com quem se prioriza; valorizam quem se valoriza; e amam quem se ama.
Se você aceita a indiferença e a grosseria; se você permite o desrespeito; se você tolera brincadeiras de mau gosto; se você não se afasta de quem invade seu espaço e o trata mal; se você autoriza o desprezo e não faz nada a respeito – sinto lhe informar, mas você está comunicando ao mundo que não tem valor algum, e o Universo o tratará como tal.
Se só você vai atrás depois de um desentendimento, só você pede desculpas, só você quebra o gelo, talvez seja hora de domar a ansiedade e se afastar. Deixar o tempo agir e peneirar o que deve continuar. Se a pessoa não se importa em te perder, é hora de desocupar a mente e o coração.
A gente não devia se acostumar com machucadinhos que parecem bobos, inocentes e toleráveis, mas que rasgam a pele. Esses ferimentos diários parecem imperceptíveis, mas são como cacos de vidro na autoestima. Se os aturamos por muito tempo é como se, para manter o equilíbrio, não nos importássemos com nossa dignidade e desistíssemos de nós mesmos.
Cecília tinha tanto medo de se estilhaçar que acabava aturando feridinhas inocentes na autoestima. Ia se tornando mais resiliente a cada dia, e não percebia que fazia concessões diárias que não devia.
Cecília amava Léo. E não queria perder Léo. E, para não perder, tirava um pouquinho do amor que tinha por si mesma e dava a Léo. Assim, ia reservando cada vez menos porções de amor para si mesma e oferecendo porções cada vez mais generosas a Léo. Porém, o que ela não sabia é que quem se doa além da conta comunica ao outro que não tem valor. Como Léo valorizaria Cecília se nem ela mesma se valorizava?
Depois de algum tempo você aprende que quando uma pessoa o trata mal, você deve se tratar bem e ir embora. E você aprende que não deve permanecer onde há indiferença, grosseria, falta de respeito, falta de limites. Descobre que deve partir sem olhar para trás, e só reconsiderar se houver arrependimento genuíno e pedido sincero de perdão. E você entende que é preferível chorar pelo fim de um relacionamento a chorar pela perda do amor-próprio e da dignidade.
Não tenha medo de partir. É preferível ser lembrada como a pessoa que foi embora e nunca mais voltou do que ser lembrada como a pessoa que, mesmo sendo tratada como um capacho, não teve forças de fazer as malas e ir embora.
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Filosofar é importante para prevenir doenças e manter a saúde e bem estar emocional.
Adoro seus artigos.
Parabéns