Há uma frase no livro “Vista Chinesa”, de Tatiana Salem Levy, que diz: “Há coisas que, mesmo depois de terem acontecido, continuam acontecendo. Elas não te deixam esquecer porque se repetem todos os dias”. E foi isso que senti quando li “Quando um pé na bunda nos empurra para frente”, romance de estreia de Josie Conti.
Apesar do livro ser leve e divertido, tratando do tema de forma franca e desbocada, com humor até mesmo nos momentos dolorosos, também é de uma honestidade indiscutível, e traz à tona questões importantes, que não podem mais serem arquivadas, ou esquecidas no fundo de uma gaveta.
Com uma narrativa ousada e muito pessoal, Josie Conti conta a história de Diva, uma mulher bonita, independente, bem sucedida e interessante que volta a experimentar as antigas inseguranças; a reviver velhos traumas de infância e adolescência; e a duvidar de seu valor quando se vê dentro de um relacionamento que lhe oferece admiração – “a admiração dele é o poço que a seduziu” – e, em seguida, a rouba; deixando Diva num abismo para o qual ela jamais teria voltado sozinha.
Um romance corajoso, em que a narradora dá voz à todas as mulheres que um dia se sentiram abandonadas – seja por um (a) companheiro (a), por um pai, ou por si mesmas. Uma narrativa construída em cima dos silêncios perversos, descaso, humilhação e violência, mas também da sobrevivência, do confrontamento e superação dos traumas do passado e, finalmente, da vingança no melhor sentido da palavra: transformando o “Pé na bunda” numa catarse, numa exposição das feridas e gangrenas – sem receio delas parecerem feias ou causarem repulsa – na aceitação de nossas estranhezas e inadequações, no perdão e reconciliação com nossa história (com todo o mel e fel de que ela é feita).
Diva é a síntese de todas as mulheres brilhantes, doces e fortes que um dia já se sentiram poderosas e realizadas, mas também daquelas que colocaram tudo a perder e voltaram a sentir-se um lixo após uma decepção amorosa. Diva é aquela que um dia chorou na porta de alguém implorando por migalhas de atenção, mas também daquela que soube rir muito de si mesma, perdoando o capítulo de sua vida em que amou demais, se despedaçou demais, mas, igualmente, limpou o rímel borrado, consertou o salto agulha do sapato e voltou mais amadurecida e mais segura de si para a própria existência.
Uma história arrebatadora e necessária, que vai te prender do começo ao fim. Boa leitura!
Fabíola Simões, na apresentação do livro “Quando um pé na bunda nos empurra para frente”
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Ps: Houve uma atualização de”Todo pé na bunda nos empurra para frente” para “Quando um pé na bunda nos empurra para frente” para evitar a generalização contida no título anterior. (não existem outras alterações)
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