Hoje concluí a leitura do incrível “Tudo é rio”, de Carla Madeira. Meu livro ficou todo grifado e marcado com post its, e algumas frases ainda ressoam em meus ouvidos. Logo no início, a personagem Dalva, ainda adolescente, é invadida por uma insegurança arrebatadora após expor seu interesse ao amado e, imediatamente, ser acometida pelo terrível medo de não ser correspondida. Sem jamais terem trocado palavra alguma, amavam-se em segredo. Porém, o fantasma da rejeição rondava aquelas duas almas inseguras. Assim, fazer o primeiro movimento era um risco; e, quem o fizesse, estaria em posição vulnerável.
Porém, tem hora que o primeiro passo é o “tudo ou nada” de uma vida inteira; o chute certeiro nos 45 minutos do segundo tempo; a falta que, se não for cobrada, separará duas almas de forma irreversível.
No livro de Madeira, Dalva faz o primeiro movimento e, depois, tomada pela insegurança, se arrepende e morre de vergonha. Está vulnerável e muito constrangida. Prefere refugiar-se em casa à expor-se novamente. Pensamentos ruins a invadem, e ela adoece de paixão e dor. Dona Aurora, sua mãe, desconfia que a filha está apaixonada e, assim deixa a menina “enfrentar sua primeira correnteza”. É dela a frase: “Crescer nunca foi fácil, tem hora que o amor pode doer mais do que a dor”.
Qualquer um que já tenha passado dos 20 deve saber o quanto o amor pode doer. Algumas vezes mais, outras menos; de vez em quando nos traumatizando por curto tempo, outras vezes nos endurecendo para sempre. Em algumas circunstâncias nos fechando para novos relacionamentos; ocasionalmente nos fazendo valorizar quem nos quer bem. Em certos momentos doendo a conta gotas, estendendo o prazo do sofrimento; em outras ocasiões dilacerando de uma vez, nos atirando para bem longe do relacionamento.
Porém, uma coisa é certa. Viver é uma dança de encontros e desencontros, alegrias e aflições, desejos e perdas, céu azul e tempestades, emoções e racionalidade, encantamento e desilusão, fé e descrença. Algumas vezes pensamos ter o controle de tudo, mas a existência vem em ondas, às vezes remanso; outras, correnteza.
Alguns quereres doem mais. São aqueles que desde o primeiro olhar nos dão a certeza de que vieram para ensinar, não permanecer. Amores que chegam mudando tudo de lugar – muito mais do lado de dentro que de fora – e dos quais não conseguimos fugir, por mais que algo nos alerte para correr. São aqueles que, embora tenham nos machucado, também despertaram alguma ternura e vontade de estar junto. E, não importa quanto tempo passe, irão sempre nos lembrar que não há lógica nenhuma na vida e no amor; pois, quando estão perto, temos dúvidas e os desejamos longe. Porém, quando vão embora, descobrimos que preferimos tê-los de forma imperfeita a não tê-los de forma alguma…
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