Há alguns anos, o escritor Rubem Alves escreveu uma crônica de amor chamada “Tênis x Frescobol”. Nela, o autor dizia que relacionamentos tipo tênis são relações em que a partida acontece “para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário – e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada”. Já o relacionamento tipo frescobol é definido como um tipo de jogo que, “para ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Ou os dois ganham ou ninguém ganha.”
Essa crônica fez muito sentido para mim e, mais tarde, tentando definir minha amizade com uma pessoa querida, criei outra analogia e disse a ela: Admiro muito sua inteligência, sua capacidade de argumentação, seu jeito dinâmico de ser e de me desafiar. Nossa amizade é rica, eu nunca fico sem uma resposta, e seu retorno é sempre certeiro, me faz pensar, me desafia a buscar soluções, me estimula a ser uma pessoa melhor. É como se a gente tivesse jogando ping pong, e você nunca deixasse minha bolinha cair. Mesmo com dificuldade, você se esforça para receber o saque e devolvê-lo para mim. É claro que há momentos em que a bolinha cai, você não consegue rebater, mas percebo que você se esforça. Com você, sinto que há troca, comunicação, interação. Nunca fico na mão, jamais sinto que estou jogando sozinha. É por isso que gosto tanto de você.
Essa analogia serve para todos os tipos de relacionamentos. Quantas vezes não sentimos que estamos jogando sozinhos uma partida de ping pong que deveria ser jogada a dois? A pessoa está ali, de corpo presente, mas deixa todas as bolinhas caírem no chão. Não retorna o saque para você, não interage, não entra na brincadeira, não devolve a piada ou o elogio. Você puxa assunto, ela responde o básico. Você manda uma música, ela não capta a mensagem. Você faz piada, ela não ri. Você comenta algo inteligente, ela não entende.
Reciprocidade é algo que não se exige nem se cobra. Porém, muitas pessoas desejam ardentemente jogar uma partida com você, mas só estão interessadas no placar final. O jogo em si, com trocas inteligentes, interações divertidas, retornos e desafios do esporte não significam nada. A pessoa não devolve a bola, não responde aos saques, é indiferente à sua provocação.
Para a pessoa é importante o placar final, e você nunca deixa de comparecer. Pra você é importante o jogo inteiro, e por que ela não pode corresponder?
Sentir que estamos jogando sozinhos uma partida que deveria ser jogada a dois é desestimulante e até mesmo decepcionante. A gente fica tentado a cobrar, a pedir que a pessoa entre no jogo, já que sabemos que ela tem interesse, mas é acomodada. Resta então decidirmos se teremos paciência de continuar ou não. Melhor desistir em silêncio do que permanecer implorando por ações que deveriam vir de graça.
Muitas vezes, você convidou para uma partida de ping pong alguém que realmente não sabe jogar ou não entendeu como deve entrar na brincadeira; alguém que não sabe as regras do jogo ou não tem habilidade em rebater a bolinha; alguém que não sacou que faz parte da partida todos os movimentos, e não somente a tacada final. Às vezes a pessoa escolhida para ser seu parceiro de jogo não faz por mal, ela apenas não sabe mesmo. Nesse caso, se a pessoa estiver disposta a aprender, sem achar que você está fazendo cobrança o tempo inteiro, ótimo. Se não, você vai perceber que projetou nela alguém que não existe ali. Você está desejando algo que ela não pode – e nunca – vai te dar. Cabe a você decidir se ela tem outras qualidades que compensam a inabilidade no jogo que você gosta tanto de jogar, ou se você desiste e procura alguém que goste tanto de uma partida boa quanto você. Simples assim. E bola pra frente!
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