Ana estava decidida. Após dias, semanas e meses oscilando entre o desejo de partir ou permanecer, havia escolhido ir embora de vez daquela casa, daquela cidade. Porém, para seu espanto, não sentia alívio ou satisfação. As malas pesavam como âncoras de metal, e nem mesmo as rodinhas deslizantes eram capazes de movê-las com desenvoltura. Seus passos eram firmes e decididos, mas faltava leveza. Sentia como se cada perna carregasse caneleiras de 20 quilos, e atravessar a estação provocou-lhe um cansaço inédito, que ela não tinha sido capaz de prever.
Quando finalmente despachou as malas e subiu no trem, percebeu a rigidez de seu corpo: a palidez dos dedos que se contraíam num nó apertado em volta da alça da bolsa, a cabeça e os pés latejando, os ombros carregando toneladas de frustração.
“eu tomei a decisão certa”, “eu tomei a decisão certa” – Ana repetia baixinho, enquanto descalçava as sapatilhas e recostava-se na poltrona, procurando uma posição confortável.
Ana beirava os 40 e estava fazendo o caminho de volta. Isso lhe dava uma sensação de fracasso, vergonha e culpa. Sentia que a vida era uma brincadeira de mal gosto e, se havia regras e macetes para avançar nesse jogo, ela não as conhecia; e por isso acumulava derrotas atrás de derrotas.
Anos atrás Ana havia partido do interior cheia de sonhos e promessas, acreditando que a capital a acolheria de braços abertos, com novas possibilidades de trabalho e amor. Porém, nada disso havia acontecido. Seu coração tinha sido machucado, sua autoestima estava em pedaços. Por isso, pedira demissão do cargo de recepcionista do “Hotel Horizonte Feliz”, terminara o noivado e seguia viagem no mesmo trem da ida. A diferença é que os sonhos tinham sido substituídos por decepções, e por mais que ela tivesse tomado a melhor decisão – a decisão certa – isso não a poupara do sofrimento.
A escolha certa também dói – ela pensava. Pois qualquer caminho não vem sozinho. Ele traz junto renúncias, bagagens e consequências; e algumas vezes temos que abandonar algo que amamos muito, sonhos que apostamos alto, futuros que imaginamos diferente, ou planos que desejamos intensamente por conta de uma decisão que é a mais certa. A gente se desprende porque o mais correto é deixar ir, mas nem por isso é o mais fácil.
Ana havia decidido abandonar de vez um relacionamento nocivo. Por muito tempo tentara colar os fragmentos daquela porcelana quebrada, como se fosse possível consertar relações e pessoas. Mas não era possível. E agora ela enxergava com clareza.
Pessoas quebradas quebram outras pessoas. E por mais que você acredite que possa colar os fragmentos de um relacionamento destruído, você tem que entender que essa não é sua função. Pare de tentar remendar coisas que você não quebrou. Nem tudo cabe a você, e você pode acabar quebrado tentando consertar coisas e pessoas.
Ela estava quebrada, e sabia disso. Porém, mesmo doendo, estava certa do que queria – ou melhor, do que não queria – e isso bastava naquele momento. Havia entendido que a pessoa que mais pode te ferir é aquela que não tem sentimentos por você, mas também não quer te perder. Ela te alimenta com migalhas, e você aceita porque prefere ter o mínimo a não ter nada.
Às vezes, ter certeza de algo que não queremos mais para nossa vida é o melhor que podemos fazer por nós mesmos. E Ana sabia. Falar que não havia dor era mentira. Dizer que não se sentia em carne viva era inverdade. Mas a determinação convicta de não olhar para trás aliviava o sofrimento e trazia uma sensação de dever cumprido consigo mesma. Nunca mais se abandonaria. Nunca mais sairia do seu lado. Seria sua maior defensora, advogaria em causa própria, e protegeria a si mesma com uma força nova, que nunca soube existir até aquele momento.
Ela fazia o caminho de volta, mas isso não significava retroceder. Ao contrário, sabia que tinha passado por uma grande experiência, e mesmo não tendo os resultados planejados, a vida se incumbira de dar um desfecho novo, e ninguém sai o mesmo depois de ter vivenciado o amor e a perda dele. Era uma nova mulher, e se orgulhava disso. “A decisão certa também dói” – repetia para si mesma, enquanto fechava os olhos e deixava o trem conduzi-la a um novo futuro…
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