Há uma frase do escritor Jack Kerouac que diz:
“Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas”
Me lembrei da frase do autor estadunidense após uma festa de faculdade, reencontro de turma após 26 anos de formados. No dia seguinte ao baile, algumas amigas vieram falar: “hoje você está mais tranquila, mas ontem… ontem você parecia uma estrelinha, um foguinho de artifício de tanto que dançava, ria, falava, gesticulava, sumia e aparecia nos 4 cantos do salão…”
Não à toa, Kerouac foi uma pessoa intensa. Sua obra prima, “On the road”, foi escrito em apenas três semanas. Segundo a Wikipédia, “Jack usava uma máquina de escrever e uma série de grandes folhas de papel manteiga, que cortou para servirem na máquina e juntou com fita para não ter de trocar de folha a todo momento. Redigia de forma ininterrupta, invariavelmente sem a preocupação de cadenciar o fluxo de palavras com parágrafos”. Outro livro escrito por ele: “Os Subterrâneos”, foi redigido em apenas três dias e três noites, e “gerado a partir do mesmo tipo de rompante inspiracional que produziu On the Road”
Não compartilho da mesma intensidade que Jack, mas muitas vezes me vi queimando, sendo consumida por minha sensibilidade e intensidade.
O lado ruim de ser uma pessoa intensa é que, muitas vezes, você não consegue canalizar a própria energia, e acaba sendo consumido por ela. Já o lado bom, ocorre quando você consegue direcionar essa chama para a criatividade, para a arte, para a expressão inventiva e imaginativa de sua sensibilidade nata. Aí, meu caro, não há quem te impeça de queimar e brilhar.
Está tudo bem ser intenso, mas você precisa aprender a se proteger, a se resguardar, a se poupar, a tomar conta da sua sensibilidade. Você precisa aprender a não se maltratar, a não se desgastar, a não ficar em carne viva por pouca coisa; e sim entender que ser intenso é também ser intuitivo, criativo e empático. Você só precisa aprender a lidar, direcionando essa chama – que queima como fogos de artifício – para algo novo e lindo; transformando cacos de vidro em vitrais; dissipando a dor através da arte, música ou poesia; convertendo labaredas em estrelas cintilantes e cuidando um tanto mais da vulnerabilidade de sua alma.
Está tudo bem ser intenso, mas algumas vezes você se sentirá mal por ter se doado demais a quem não merecia, ou se ressentirá da falta de reciprocidade daqueles que não são tão sensíveis quanto você. Você só precisa entender que cada pessoa tem um traço de personalidade, e quem é intenso precisa se proteger mais, muitas vezes de si mesmo. Escolha suas batalhas, se poupe das guerras inúteis, canalize sua energia para algo novo e retire-se do jogo de tempos em tempos. Você precisa se abrigar. Você precisa se poupar e se proteger.
Se você é uma pessoa intensa, sabe que é capaz de atravessar tempestades, cruzar oceanos e resistir às piores tormentas por uma causa; mas de vez em quando seu corpo e seu espírito precisarão de mansidão e sossego. Não questiono sua força; sua capacidade de quebrar-se e colar-se inúmeras vezes; sua determinação em dançar mesmo quando a música cessou. Mas construa abrigos onde possa se refugiar e descansar.
Quem é intenso demais sabe que a alma tem pressa de se desconectar e se curar, e por isso defendo o seu direito de sumir e se afastar, reabastecendo-se em locais onde possa silenciar e seja quase impossível te encontrar. Está tudo bem ser intenso, mas é preciso se cuidar…
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