O lado ruim de ser uma criança que não dá trabalho é que seus pais passam a acreditar que você já é autosuficiente, e que, por isso, não precisa de tantos cuidados. Você não reclama, não tira notas ruins, raspa o prato mesmo não gostando da comida. Você é obediente, dorme na hora certa, recolhe seus brinquedos e faz do seu quarto um santuário, onde inventa brincadeiras sozinha e cria mundos imaginários. O lado ruim de ser uma boa menina é que todos acreditam que você é uma pessoa forte, e que por isso consegue se virar bem sozinha, e aguenta mais e mais responsabilidades. O lado ruim de ser uma criança aparentemente forte é que você se acostuma com os elogios, e para continuar recebendo-os, não ousa mostrar que também tem fraquezas, carências, dificuldades, necessidade de colo. E pra não decepcionar, assume o papel. Você cresce fingindo aguentar mais do que aguenta, assumindo uma perfeição que não existe, aparentando uma força que só se manifesta do lado de fora, mas que camufla uma pessoa que não aprendeu a se proteger, a ser forte consigo mesma.
O lado ruim de ser uma pessoa forte é que você cresce alcançando tudo o que almejou, mas as pessoas acreditam que pra você foi mais fácil, que não houve lutas e batalhas internas e externas, que você sempre dá conta de tudo e nunca passou por crises ou dificuldades.
O lado ruim de ser uma pessoa forte é que as pessoas acham que você é tão auto-suficiente que não precisa de uma força, uma acolhida, uma gentileza, um mimo, um carinho, um oferecimento para rachar a conta.
Você vai assumindo mais responsabilidades do que devia, arcando com mais encargos, transmitindo a mensagem de que não há limites para aqueles que desejam mais e mais de você. E você descobre que isso não é ser forte, isso é querer ser perfeito. E ninguém conseguiu esse feito sem fazer muito mal a si mesmo.
O lado ruim de ser uma pessoa forte é que as pessoas se acostumam a receber tudo de você, e quando você começa a colocar limites, elas se ressentem como se isso fosse obrigação sua, e você se culpa por ter decepcionado ou por não dado conta do recado. Mas vem cá que vou te contar um segredo: você não é obrigado (a) a nada, e um dia essa culpa ficará no passado. E você se sentirá tão em paz consigo mesmo que valerá a pena ter se rebelado.
Você tem que aprender a se afastar sem se sentir culpado. Aprender a colocar limites sem se sentir endividado. Aprender a dizer “não” sem se sentir desalmado. Aprender a se priorizar sem se sentir mal-intencionado. Aprender a se respeitar sem constrangimento ou covardia. Aprender a ter dignidade sem se desculpar. E, finalmente, a ser forte sem se anular.
Muita gente não sabe lidar com sua força, com sua potência, e se vitimiza diante da sua independência. Te acusam de mesquinho quando você está sendo apenas justo, e se ressentem de seu afastamento quando você quer apenas se resguardar.
Se você se cansou de parecer forte o tempo todo, pause o tempo e olhe um pouquinho para si. Reveja os contratos, revogue as cláusulas, reformule os decretos que você selou numa época em que não compreendia bem a vida, e por isso entendeu que ser forte era dar conta de tudo. Você também tem o direito de errar, de voltar atrás, de se priorizar, de se amar em primeiro lugar.
Ao final você perceberá que valeu a pena dizer ao mundo que você é forte sim, mas isso não dá o direito das pessoas agirem de qualquer forma com você. Você é forte sim, mas tem um coração que sente, se comove e precisa de colo de vez em quando. Você é forte sim, mas quer ser tratado (a) com carinho, delicadeza e consideração como todo mundo. Você é forte sim, mas um dia vai perceber que só deve permanecer em lugares que são gentis com você…
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