Eu acordei hoje ainda processando o falecimento do Paulo Gustavo. Fiquei rolando na cama durante bastante tempo e pensando se deveria escrever um texto sobre sem que soasse uma tentativa deliberada de ganhar aplausos, seguidores ou coisa parecida, porque se tem uma coisa que me incomoda é o aproveitamento da tragédia para engajamento. Vejam bem, isso é bem diferente de textos e declarações que prestam homenagens.
Mas enfim, pensei se deveria ou não escrever o texto e mesmo publicá-lo, porque a morte choca. Ela ainda é um tabu e eu confesso, fico desconfortável quando me aprofundo nos meus pensamentos e sentimentos sobre o que ela significa. Agora é o momento no qual muitas pessoas estão dizendo que não dá politizar a morte do Paulo Gustavo ou, ainda, existem os que vão defender o argumento: mas e as outras mais de 400 mil mortes? Não teve comoção por quê?
Primeiro, gostaria dizer que existe comoção para toda e qualquer morte. Sempre existe alguém que sente uma partida, alguém que sofre, alguém que a gente para e pensa, por que essa pessoa se foi? A diferença está na plataforma, no alcance que umas pessoas têm e outras não. O perigo se encontra nesse demérito em querer fazer comparações que são incomparáveis. Como assim? É tipo dimensionar quem tem o sofrimento maior? Cada um sabe onde dói mais, mas infelizmente vivemos hoje numa espécie de bolha gigante de julgamentos e precipitações quando o assunto é o outro.
Paulo Gustavo foi gigante e perdê-lo tem proporções inimagináveis. Negar algo assim é de uma falta de empatia sem tamanho. Para quem gosta também de discursar que todas as vidas importam, que não existe isso de racismo e etc, com certeza você vai achar por aí algumas opiniões bem seletivas e convenientes da vida e do legado do Paulo Gustavo. É aí que reside o verdadeiro problemas, queridos.
Eu não quero e jamais vou dizer como cada um deve viver a sua vida. Mas eu tenho o chamado, a responsabilidade de compartilhar que o amor que muita gente prega, não condiz com o amor que faz alguém ser feliz e ter o mínimo de equilíbrio e emocional. Estamos numa situação sem precedentes, mas há responsáveis nessas milhares de mortes. Não vou entrar em detalhes sobre o papel do governo, porque com certeza os comentários vão descambar para um debate nada saudável. A internet tem fomentado esse ódio e linchamento desenfreado há tempos.
Mas o que eu realmente quero dizer com todo esse subtexto? Que só o amor salva. Mas o amor definitivamente demonstrado e respeitado. O amor do autocuidado, do autoconhecimento, mas também do coletivo, do pensar na própria trajetória e no impacto que terá na vida das pessoas ao longo da estrada. É tudo tão frágil, sim. No entanto, o amor tem a capacidade de transmutar, de solidificar comportamentos importantes sem perder o seu lado espontâneo e divertido.
Paulo Gustavo era um desses amores que a gente só conhece pouquíssimas vezes na vida. O seu acolher era escancarado, o seu sorriso era profundamente encantador, tornando impossível não sentir boas energias. Acho, melhor, tenho certeza que esse é o mais próximo do amor altruísta tanto falado por personalidades religiosas e suas respectivas correntes.
A pergunta que fica é: vamos de uma vez por todas abraçar o amor que fica, que aceita quem o outro quer, pode e consegue ser? Ou será que ainda vamos, dentro das nossas próprias convicções imutáveis, dizermos como cada um deve saber amar?
Eu tenho aprendido nos últimos tempos o quanto sorrir faz bem. Sorrir é mergulhar na imensidão do amor, de se perder e também se encontrar na sua essência. O amor líquido depende das nossas barreiras internas. Daí, novamente, recordo, vamos sorrir, vamos demonstrar, vamos amar. Tudo importa, todos importam. Mas nada disso tem efeito sem antes nos colocarmos disponíveis para aprender novas direções do amor, e aprender a respeitá-las no lugar de forçá-las.
Enfim amor, Paulo Gustavo. Enfim amor.
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