Será que a carência faz a gente enxergar amor em tudo, mesmo onde não devia?
Será que o tédio, a falta do que fazer, a dificuldade de achar um filme bom na tevê… será que tudo isso pode se transformar na falta que acredito sentir de você?
Será que essa vontade que tenho de que tudo se concretize, de que você apareça na minha porta ou quem sabe me mande um oi assim, do nada, no meio da tarde é só a súplica de uma alma andarilha, que não sabe muito bem que rumo tomar?
A verdade é que esperei por você. Esperei por uma atitude sua que me autorizasse dar um passo também. Mas você não veio. Você nunca veio. Então recuei duas casas, porque aprendi que a gente não deve ficar esperando pelo investimento do outro. A gente tem é que diminuir o nosso investimento também, para descobrir qual é o ritmo da relação. Então parei de investir, aguardei um, dois, sete dias. E constatei que, em todo esse tempo, só eu havia investido. Só eu acreditava na história que me contava.
Eu dizia “venha quando quiser”, mas você nunca veio. Eu fingia não ligar, fazia um ar meio blasé de quem não se apega, não cobra, não atormenta. Mas no fundo aquilo me doía, me consumia, e as mentiras que eu inventava para mim mesma não aliviavam a falta que eu sentia.
De alguma forma eu sabia. A gente sempre sabe. Só eu te queria. Só eu te procurava. Só eu relevava a falta que aquele amor inventado me fazia.
Hoje tenho a alma cansada e os ombros pesados por ter acreditado nas ilusões que criei.
Mas não vou me culpar nem me desculpar.
Não vou me desculpar por ter sido de verdade, por ter me entregado por inteiro, mesmo sabendo que não devia. A única dívida que tenho é comigo mesma.
Agora tudo mudou, e preciso cuidar mais de mim.
Tenho vontade de dizer, mas não digo
Tenho vontade de me atirar, mas não me atiro
Tenho vontade de agir, mas não ajo
Tenho vontade de escrever, mas não escrevo
Te vejo online e começo a digitar, mas me seguro
Te quero bem, te quero comigo… mas não demonstro
Prefiro a solidão… ao seu “não”…
Fico abraçada à ilusão do seu sim, pois o medo de perder o que nunca tive é maior que a disposição pela (não) concretização.
Não foi sempre assim. Um dia me atirei de cabeça, e me feri na mesma proporção.
Hoje mergulho até onde a água toca minhas canelas, e sei que pago o preço por viver pela metade.
Mas agora decidi ficar do meu lado. Me ouvir. Me amparar. Se devo um pedido de desculpas a alguém, é a mim mesma. E me absolvo com amorosidade, pois o tempo todo fui quem eu sou de verdade. E se isso não bastou para você, a culpa não me cabe. Não vou permitir que a definição que você tem de mim seja a minha definição. Sei que um dia alguém vai querer ficar. E vai permanecer por gostar justamente desses detalhes que você desprezou.
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