Todo mundo conhece alguém que seja mestre em dar desculpas, a maioria delas esfarrapadas. Não fez o que prometera porque aconteceu um imprevisto. Não compareceu ao evento porque alguém de casa ficou doente. Não foi à festa porque teve dor de barriga. E por aí vai.
Por trás das desculpas tem muito de fuga a responsabilizar-se pelos próprios atos. A muitos, é difícil falar a verdade, porque essa verdade não seria suficiente para ser uma desculpa. Então, inventam histórias que possam passar um mínimo de credibilidade. Credibilidade essa que não faz parte da personalidade dos desculpadores obsessivos.
Outras vezes, as justificativas inventadas acabam por encobrir a falta de coragem de a pessoa simplesmente dizer algo que possa magoar o outro. Sim, porque, hoje, parece haver uma cultura do topar tudo com todos. Como se as pessoas que aceitassem qualquer convite fossem as mais legais, amigas, companheiras. Dizer que não está a fim torna-se, nesse contexto, um suplício, tamanhas serão as reprimendas que virão.
Há que se ressaltar, ainda, uma sociedade extremamente egoísta e centrada em si mesma, em grande parte. Assim, torna-se difícil o indivíduo pensar no outro, porque, nessa lógica umbigocêntrica, apenas deve ser feita a própria vontade. Não gosto de velórios, então não vou dar pêsames pessoalmente ao meu amigo. Não curto festa de crianças, então não vou ao aniversário do filho de meu primo. O outro pouco importa.
Ou seja, se eu não quero, eu não vou, não importam os sentimentos de ninguém. Não importa se meu amigo precisa de mim, se ele ficará chateado, afinal, não farei o que me desgosta em favor de ninguém. Coloca-se o eu em primeiro lugar e as relações interpessoais que lutem. Quem gosta de mim deve gostar de como sou. E é assim que o afeto esmorece. E é assim que os lações afrouxam. E é assim que a solidão se instala de vez.
Por isso, urgentemente, é preciso levar em conta que viver em sociedade significa viver além de si, olhar além do próprio umbigo, saber que ninguém é uma ilha. Todo e qualquer relacionamento requer concessões de ambas as partes. Quem quiser que só seja feita a própria vontade, assim na terra como no céu, que procure a caverna mais próxima e se torne um ermitão. E ponto.
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Photo by Daria Nepriakhina on Unsplash
Texto publicado originalmente em Prof Marcel Camargo
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