Guilherme Moreira Jr.

“A Voz Suprema do Blues” é o filme a ser aplaudido de pé em 2020

A tradução do título do filme como “A Voz Suprema do Blues” pode ser considerada errônea, até ambígua se você olhar mais de perto. Mas não há dúvida que o nome carrega uma provocação que dificilmente será esquecida. Porque a voz aqui não se trata especificamente do legado e importância da mãe do blues, mas do próprio gênero musical em si.

A superação das suas barreiras e tudo que foi desencadeado por sua causa. O blues é a matriz da música como conhecemos para qualquer estilo e, não tem como não enxergar isso, como muito bem descrito no texto brilhante interpretado e digno de Oscar para Viola Davis — pessoas brancas não entendem o blues verdadeiramente.

Contudo, o subtexto do filme vai mais além. Ele não se contenta em tratar da música. A música, ainda que seja o sentimento de toda a narrativa, ela é apenas uma desculpa para retratar e denunciar o racismo estrutural e as consequências brutais dele. É aí que entra Chadwick Boseman, em seu último e derradeiro papel. Leeve é uma das várias vozes silenciadas pelo racismo e também vítima da sua violência, da sua imposição secular. As escolhas do seu personagem são espelhos do que ele viveu e vive no presente sem saber como lidar.

Quando você presta atenção nessa agonia, o coração chega a ficar apertado. Complicado cravar com certeza se a edição e a direção resolveram mudar o corte final devido ao falecimento precoce do ator, mas é indiscutível o seu protagonismo.

Concorrer na categoria de Melhor Ator Coadjuvante seria desrespeitar uma atuação perfeita e inesquecível. “A Voz Suprema do Blues” é a realidade que entendemos como fictícia ou mero entretenimento.

Ou, ainda, podemos tentar perceber por outro ponto de vista: é o desespero atrás da porta desconhecida de sentimentos mais profundos e complexos, tudo isso com a Chicago segregadora dando o tom amarelado pra dizer que o blues ainda é uma história a ser reconhecida na sua plenitude como negra, e não abarrotada de palmas e elogios para os brancos que a usaram e usam até hoje.

Imagem de capa – Reprodução/Netflix

Gui Moreira Jr

"Cidadão do mundo com raízes no Rio de Janeiro"

Recent Posts

Esse filme de romance da Netflix é a dose leve e reconfortante que seu fim de ano precisa

Se você é fã de histórias apaixonantes e da fórmula que consagrou Nicholas Sparks como…

2 dias ago

Na Netflix: Romance mais comentado de 2024 conquista corações com delicadeza e originalidade

Se você está à procura de um filme que mistura sensibilidade, poesia e uma boa…

4 dias ago

Pessoas que foram mimadas na infância: as 7 características mais comuns na vida adulta

Uma infância marcada por mimos excessivos pode deixar marcas duradouras na personalidade de um adulto.…

6 dias ago

“Gênios”: Saiba quais são as 4 manias que revelam as pessoas com altas habilidades

Alguns hábitos podem parecer apenas peculiaridades do cotidiano, mas segundo estudos psicológicos e pesquisas científicas…

6 dias ago

As 3 idades em que o envelhecimento do cérebro se acelera, segundo a ciência

O envelhecimento é um processo inevitável, mas não linear. Recentemente, cientistas do Primeiro Hospital Afiliado…

1 semana ago

Desapegue: 10 coisas para retirar da sua casa antes de 31 de dezembro

Fim de ano é sinônimo de renovacão. Enquanto muitos fazem balanços pessoais, é também um…

1 semana ago