Meu pai teve um armarinho, durante a minha infância, onde se vendia todo tipo de aviamento: etiquetas com desenhos de pontos turísticos americanos, fitilhos, vieses, elásticos e botões, que eram centenas, de todos os tamanhos e cores. A lojinha não durou muito porque meu pai, como um bom virginiano, precisa se sentir no controle de tudo e, naquela época, ele já tinha um outro comércio que lhe tomava boa parte do tempo. Por isso, a loja fechou e sobraram, entre outras coisas, os botões. Minha mãe que, vez ou outra, ainda costurava, os levou para casa. Fizemos toda sorte de coisas com eles: nós os colávamos em papéis, usávamos para consertar camisas e doava-os, vez ou outra, para um parente que aparecia em casa. Eram tantos que, hoje, quase trinta anos depois, não acabaram por completo. Atualmente, tenho comigo uma pequena caixinha de madeira com algumas dezenas deles: estão intactos, tal como eu os via criança. Metalizados com riscos paralelos, quadrados e com listras pretas e brancas, de plástico nas cores rosa, azul, bege, branca e cinza. Verdade seja dita, raramente preciso deles, mas cada vez que os vejo, volto no tempo e na vida, que ao contrário dos botões, não há mais.
Naqueles idos, minha avó paterna era viva e, tal como a escola que eu frequentava, estava na próxima esquina da minha casa. Meus irmãos e eu éramos crianças e a vida não parecia tão complicada. Por isso, tenho uma fixação pelos objetos antigos, pois eles, ao contrário de nós, parecem incólumes ao tempo, sobrevivem, às vezes manchados, encardidos, mas continuam. Tal como esses botões que sussurram, ao pé do meu ouvido, memórias de algumas pessoas que partiram, mas que, ao mesmo tempo, ajudam a alimentar o afeto pelas novas pessoas que chegaram. Minha sobrinha, no último mês de outubro, fez sete anos de idade e está na fase de costurar vestidinhos para as bonecas. Por isso, para presenteá-la, montei uma caixa de costura com pequenos pedaços de tecidos coloridos, agulhas, tesoura, cola e os botões: os mesmos da minha infância, agora para as mãos dela. Lá estão eles, colorindo a imaginação da Maria Clara, como um dia coloriram a minha, abotoando assim, as nossas histórias.
Conforme amadurecemos, acumulamos objetos porque também acumulamos lembranças. Obviamente, alguns são descartados, esquecidos ou consumidos pelo tempo. Outros, no entanto, ficam conosco. São como fotografias invisíveis, espelhos do que éramos. Costuram nosso passado ao nosso presente.
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Realmente lindo isso, o valor inapreciavel de "simples " botões para quem nele vê, abotoados, pedaços de um tempo que não volta.Incrível como objetos singelos se atrevem a durar mais do que as pessoas que a gente ama mas não consegue costurar em nossa vida para sempre. Não perdoamos os botões por causa disso. Nem as linhas, os fitilhos e as rendas por estarem tão vivos quanto antes e...elas não.
Oi, Sandra! Que olhar mais delicado sobre o texto! Obrigada por compartilhar!