Fabíola Simões

Enquanto não aprendemos a desatar os nós que ficaram lá atrás, iremos repeti-los, incontáveis vezes, até que aprendamos a lidar com esses nós

Algumas pessoas entram em nossas vidas e acessam memórias muito dolorosas, marcantes ou sensíveis dentro da gente. Outras pessoas entram em nossas vidas e nem tocam nessas memórias. Geralmente, são os que mexem nessas memórias e nos desestabilizam que a gente vai amar mais. E, com sorte, aprender mais.

Dizem que enquanto não aprendemos a desatar os nós que ficaram lá atrás, iremos repeti-los, incontáveis vezes, até que aprendamos a lidar com esses nós.

As situações irão se repetir, em forma de encontros semelhantes, ou de pessoas que nos desafiarão de forma similar, ou de instabilidades parecidas que tumultuarão nosso bem estar… até que a gente aprenda. Coincidências ou “dedo podre” não existem. O que existe é a repetição da provação até que se torne lição.

Um dos meus livros preferidos de toda a vida é premiado “O Sentido de um Fim”, do escritor inglês  Julian Barnes. Dentre as inúmeras passagens que me atraem, gosto especialmente de uma que fala sobre o envelhecimento, e sobre como as pessoas mudam com a passagem do tempo. Porém, embora ocorram variações nos cabelos, nas roupas, e nas sardas (que “agora parecem mais manchas de fígado”), os olhos permanecem iguais: “Mas ainda é para os olhos que nós olhamos, não é? Era lá que achávamos a outra pessoa, e ainda achamos. Os mesmos olhos que estavam na mesma cabeça quando nos conhecemos, dormimos juntos, nos casamos, fomos para a lua de mel, fizemos uma hipoteca, fizemos compras, cozinhamos e passamos férias, amamos um ao outro e tivemos uma filha juntos. E eram os mesmos olhos quando nos separamos.”

É para os olhos que nós olhamos. É lá que encontramos partes de nós mesmos no outro, ou o mistério que precisamos desvendar, ou as memórias que precisamos acessar, ou as lições que precisamos reviver para nos curar. É nos olhos do outro que está aquele enigma que leva- nos a apaixonar, ou o abismo que nos faz despencar.

O que te atrai nem sempre é beleza, status, educação, gentileza, vestimenta ou posição social. O que te atrai é esse emaranhado de questões que você quer desvendar. É essa turbulência que o outro lhe provoca, ou esse enigma que nenhuma palavra é capaz de comunicar. O que te atrai está no mistério, na energia, no olhar. Nada te prepara para isso, nada te salva.

Fazer o caminho de volta é ser capaz de olhar para a própria história de outra forma, mais amadurecida e consciente, e conseguir transformar os antigos nós em novos laços. Enquanto não aprendermos a reagir de forma mais amorosa conosco mesmos, iremos continuar repetindo padrões e culpando a vida pela repetição.

Vida é prova. E as questões são específicas para seu aprimoramento. Suas dores e decepções, reveses, desvios e sustos fazem parte do pacote. Errar faz parte; deixar em branco anula quem você pode vir a ser…

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Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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