Fabíola Simões

Sumir nem sempre é estratégia. Sumir também é autopreservação

Às vezes a gente está tão perdido e confuso internamente com a gente mesmo que prefere se afastar para não machucar o outro. Esse é um gesto de amor também.

Porém, na era dos joguinhos, blocks e cancelamentos, sumir do mapa, silenciar ou deixar de procurar alguém parece ser unicamente estratégia ou desinteresse, mas muitas vezes pode ser autopreservação e responsabilidade afetiva consigo mesmo.

Nem sempre o amor é um terreno de paz e sintonia. Muitas vezes é um campo minado de dor e desentendimento, e mesmo havendo afeto, em algum momento necessita de trégua – silencio, recolhimento e distanciamento – para então se tornar lugar de acolhimento.

Algumas coisas são muito nossas. Incomunicáveis. E estar em paz com esse emaranhado de nós também é equilíbrio. Pausas são necessárias. Silêncio e recolhimento também. Não se culpe por buscar a paz que você necessita para se ter de volta. Você importa.

Eu não poderia estar bem com você se ainda não estou bem comigo. Está tudo embaralhado aqui dentro. Fez-se noite ao meio dia, e na madrugada desperto como se fosse hora de acordar. Não sei se quero nós dois novamente, ou se me apeguei à ideia de que amo continuar amando você. Está tudo bagunçado aqui dentro. Como um quebra cabeças de mil peças, me vejo montando o contorno e as bordas, mas o centro continua confuso e indefinido. Está tudo embaralhado aqui dentro.

As coisas têm a hora certa de chegar. Não se torture com meu silêncio nem imagine que faço dele um jogo. Ainda que eu nada diga, é como se eu sempre dissesse alguma coisa. A verdade é que o casulo é lugar de mudança e restauração, e troco o orgulho e a vaidade pelos recomeços.

Às vezes é preciso machucar um pouco mais nosso coração, deixar rolar um tanto mais nosso pranto, doer um pouco mais nosso corpo e silenciar mais a nossa mente para enfim voltarmos à superfície. Cada um tem seu tempo e seus processos, mas a cura sempre chega num momento ou outro.

Mas então chega o domingo e domingo é dado a silêncios, e me traio querendo sair do meu casulo sem estar pronta para os recomeços; e me contradigo querendo saber notícias suas e do mundo; e me desminto desejando trégua do meu afastamento. É preciso suportar os domingos. É preciso estar em paz com a falta de respostas. É preciso suportar os domingos.

Entre a ruptura e o reencontro, busque o silêncio. O silêncio que não pune, mas cura. O silêncio que não joga, mas nos permite redimensionar os fatos. O silêncio que não é estratégia, mas nos preserva e resguarda o outro de nossas emoções impulsivas e negativas. O silêncio que não quer mandar recados, mas dizer ao nosso ouvido aquilo que precisamos aprender. O silêncio que não tem a intenção de torturar ninguém, mas de nos ajudar a decidir os rumos de nosso coração.

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Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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  • Verdade. Nem sempre a guerra vale a pena e desertar do conflito também é uma estratégia. Mesmo porque, imprescindível reunir os pedaços, cacos de lutas perdidas, para não se perder de novo.Permitido chorar se essa for a maneira de se exprimir e respirar no meio de silêncios demais. Desertores as vezes são os mais sábios, ainda que nao sejam condecorados por isso.

  • Às vezes, a pessoa tem que entrar no modo "eremita" para poder se entender e entender o que está se passando em sua vida e a sua volta.

  • Faz todo sentido!
    É uma pena que o mundo sempre cobra presença e palavras que não podemos entregar quando pedido, e aí entra o perigo de as pessoas acharem que estamos fazendo joguinhos como você mesma disse.

    "Não adianta tá no bolo, a vida é carreira solo, tô saindo de novo..."

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