Isaias Costa

No Pós-pandemia, a regra será não trabalhar 8 h por dia

Você já se perguntou por que de um modo geral as pessoas trabalham 8 h por dia? A História responde muito bem essa pergunta e o principal motivo está no consumo. Uma passagem de um artigo do escritor Mikael Cho explica resumidamente isso.

“Durante a Revolução Industrial, as fábricas precisavam funcionar dia e noite, de forma que os empregados desta época frequentemente trabalhavam entre 10 a 16 horas por dia.
De qualquer forma, nos anos 1920, foi Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, que estabeleceu a semana de 5 dias e 40 horas.”

*****

O Ford era um cara muito mais inteligente e esperto do que se imagina. Ele percebeu que as pessoas que antes trabalhavam entre 10 a 16 horas chegavam em casa tão cansadas e fatigadas que não compravam tanto.

Em uma entrevista publicada na revista World’s Work, Ford explica porque ele tirou seus trabalhadores de uma semana de 6 dias e 48 horas de trabalho, para uma de 5 dias e 40 horas, ainda pagando o mesmo salário:

“O lazer é um ingrediente indispensável em um mercado consumidor crescente, pois pessoas que trabalham precisam de tempo livre suficiente para encontrar usos, para consumir produtos, incluindo automóveis.” — Henry Ford

Você percebe a jogada? As pessoas trabalhando menos tempo e vendo as propagandas altamente persuasivas dizendo: “Compre isso! Compre aquilo! Sua vida mudará para sempre com tal produto! Você merece o conforto de tal produto…”. O que elas farão? Compras, é claro!

Assim, a partir do século XX, os níveis de consumo no mundo cresceram de uma forma que se tornou destrutiva para o planeta. Há uma frase curta que resume isso, talvez você tenha lido em algum lugar. Diz assim: “Quem acredita na possibilidade de crescimento infinito num mundo finito ou é louco ou é economista” – Kennet Building.

Com a pandemia do coronavírus, a maioria das pessoas está sendo obrigada a ficar dentro de casa e inevitavelmente vem o questionamento: “Eu preciso de tanta coisa? O que realmente é essencial? Quais coisas são importantes e quais não são?”.

É raríssimo encontrar quem não esteja se fazendo esses questionamentos nesse momento histórico. A partir de tudo isso vou adentrar no cerne desse texto.

Sabemos que enquanto não houver uma vacina para o Covid-19, o distanciamento social deve ser mantido, em maior ou menos grau. Assim, a forma de trabalhar deve ser diferente, o contato entre as pessoas deve ser diferente, bem como os deslocamentos devem ser diferentes.

Até comentei num texto recente que o home office será a nova forma de trabalho e renda pra um número bem maior de pessoas a partir desse confinamento. Porém, é óbvio que nem todos podem trabalhar a partir de casa. E quem tem que se deslocar? Muitos pegam ônibus ou metrô, e esses transportes geram aglomerações. E o que fazer com essas aglomerações se isso é o que mais devemos evitar nesse momento?

Quero contrapor a sociedade pré-pandemia, em pandemia e pós-pandemia. Veja que interessante! No pré-pandemia a regra era: sair entre 5h e 7h para trabalhar das 8h às 18h. Quase todo mundo saindo de casa na mesma hora e voltando pra casa na mesma hora. Resultado? Transportes lotados e trânsito caótico.

Na pandemia, com 50% ou mais das pessoas em casa, o trânsito desafogou muito e os congestionamentos se tornaram raros.

No pós-pandemia sabe o que pode ser feito e é totalmente viável? As pessoas não terem que trabalhar 8h por dia e com isso não precisarem todas saírem e voltarem no mesmo horário.

Digamos que muitas empresas regularizem 5h a 6h de trabalho diário. Assim, alguns funcionários começam às 8h, outros começam às 10h, outros começam ao meio-dia. Assim alguns saem às 15h, outros saem às 17h, outros às 18h ou 19h. E isso é fantástico! Tem pessoas que são mega produtivas acordando mais tarde e se estendendo no trabalho até a noite. Outras tem filhinhos bebês ou crianças e precisam acordar super cedo para a lida diária com escola, cuidados da casa etc. Para estas, começar mais cedo e voltar mais cedo seria o ideal.

Percebe como esse formato é mais humanizado? Ele olha cada um nas suas necessidades! E de quebra ainda ajuda o trânsito, o meio-ambiente, a saúde das pessoas e uma série de outros fatores!

O problema estava no antes da pandemia! A forma que estávamos trabalhando era quase paranoica. Não precisa continuar sendo assim. Aliás, seria um erro imenso continuar do mesmo jeito!

Essa pandemia deve ser encarada como um rearranjo em todas as esferas da sociedade para que juntos construamos um mundo diferente, no qual se valorize muito mais o ser humano em si do que apenas o consumo pelo consumo.

Talvez o que escrevi nesse texto não se concretize! Afinal, para o futuro só podemos criar hipóteses não é? No entanto, sei que as mudanças acontecem primeiro porque as pessoas pensaram sobre elas e propuseram algo novo, algo diferente. Depois vão sendo experimentadas até que se tornem comuns. Daí vai se construindo a nova normalidade que todos vêm falando!

Que a nova normalidade surja para nos tornar, de fato, mais humanos e menos consumistas…

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Imagem de Free-Photos por Pixabay

Isaias Costa

Bacharel em Física. Mestre em Engenharia Mecânica e Psicanalista clínico. Trabalha como professor de Física e Matemática, mas não deixa de alimentar o seu lado das Humanas estudando a mente humana e seus mistérios, ouvindo seus pacientes e compartilhando conhecimentos em seu blog "Para além do agora", no qual escreve desde 2012.

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  • Se "existe algo estranho no ar", como já disse alguém, cala-te boca, é isso: a gente reconhecendo que precisa menos do que achava que precisava porque descobrindo que não vale tanto quanto achava que merecia. Inocentes, hoje vivenciamos o cárcere dos réus, porque “livres”, antes da pandemia, nos julgávamos vítimas, apesar de algozes, muitas vezes. O medo nos tem ensinado a ter coragem e o luto na casa alheia nos evidencia a fragilidade do próprio teto. Valores verdadeiros estão sendo misturados com os de mentira para que seja extraída a fórmula de viver que crianças conhecem à beça, mas adultos esqueceram, isto é, sem desperdício, no desapego da essência apenas. Sem espaço para correr lá fora, somos impelidos a caminhar para dentro, em ruas solitárias do nosso próprio bairro esquecido onde podemos dispensar as máscaras, exatamente como somos. Todo poder fictício que achávamos possuir, a morte tem ensinado que era transitório, sempre que testemunhamos pessoas “poderosas” serem levados por ela, sem ao menos o celular, contra a vontade e à contra gosto. A gente achava que o supérfluo era imprescindível, na voracidade de acumular pessoas e coisas. Hoje estamos sendo compelidos a filtrar o excedente para valorizar o importante, limpando a ganga da pedra para que ela se torne preciosa. Alguns já perceberam sutilmente, lições valiosas nesse confinamento, que lugares para onde iam e companhias que desfrutavam, na verdade, não precisavam tanto assim, nem deles, nem delas. Observamos o tempo escoando devagar, porque antes não tínhamos tempo para nada, nem para o grande amor da nossa vida, para o cão fiel sempre à nossa espera ou para o vovô que não deu tempo de esperar pelo nosso carinho, por isso foi embora para sempre. Nem para rezar, tínhamos tempo, apressados demais para ouvir Deus no silêncio absoluto e sagrado Dele, azar o nosso. Hoje, a prudência nos corrige os arroubos excepcionais de quem sonha voar mas não tem asas e intenta mergulhar em águas profundas mas só encontra lágrimas. Hoje começamos a entender que não basta pedir para alcançar a felicidade, indispensável é o mérito para possuí-la. Começamos a valorizar o aperto de mão, já que não podemos aperta-la em outra mão sem o medo de “passar” ou “contrair”. Sonhamos carregar nosso filho pequeno nos braços, porque ele não compreende nossa recusa e rejeição, em favor da saúde dele. Antes da pandemia estávamos correndo tanto, tanto, que não enxergávamos nenhuma flor na paisagem, nem mesmo a paisagem a gente via, cegos demais. Se existe algo bom nesse caos da pandemia é isso: ENFIM SÓS.

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