Tenho aprendido tanta coisa nessa quarentena, mas tanta coisa. Sabe, tenho pensado muito sobre uma palavra usada desde sempre por mim: disponibilidade. Já até escrevi um texto falando da falta que ela faz no mundo.
Ao mesmo tempo, minha reflexão mais madura da coisa toda tem mudado de opinião: a disponibilidade tem seu preço e, às vezes, se torna um valor muito alto.
Nos últimos anos, especialmente nesse último, fiz uma linha do tempo na minha vida. Nesse exercício me deparei com uma realidade: minha disponibilidade não tinha fim.
E isso é tão natural em mim, veja só, que nunca havia parado para pensar no quanto poderia me fazer mal e, claro, não ser recíproco. No colégio, na família, no trabalho: era sempre eu que estava disponível para salvar alguém, carregar alguém, cuidar de alguém, buscar alguém, etc.
Podia ser de madrugada, feriado, qualquer coisa, se alguém precisasse de ajuda, adivinha quem estava lá? Eu, euzinha, em carne e osso.
Na minha retrospectiva tão necessária, me dei conta que socorri muita gente que não merecia, dei atenção para quem não era digno dela e estive junto de quem nem sequer me considerava parte sua, só da boca pra fora.
Vivi a maior parte do tempo entregue aos outros. E não que seja ruim, é bonito até. Mas, essa disponibilidade toda acabou banalizando a importância das coisas, especialmente a minha importância.
Olhei pra trás e vi que grande parte dessa “gente toda” não me acompanhava de fato. E que deixar para trás esses pedaços era o que deveria ser feito. E foi o que fiz. É preciso abandonar as metades para conseguir ser inteiro.
Aprendi que é preciso ser disponível, mas não o tempo todo. Quando você entende isso, fica mais fácil compreender o resto todo.
Se a gente não valorizar o que temos a oferecer, quem é que vai fazer? Não sou a mesma pessoa de antes, graças a Deus, só estou me amando mais. E isso faz toda diferença na percepção que tenho hoje da minha companhia – o que torna mais do que especial quem chamo para se aconchegar no meu lar e, claro, mais ainda no meu coração.
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