Série “Uma segunda chance” – Netflix
A série coreana “Uma segunda chance” conta a história de uma moça que morreu prestes a dar a luz à sua primeira filha e toda a trama gira em torno dessa moça desejar, mesmo em espírito, estar o tempo todo perto da filha, vendo o seu desenvolvimento.
Essa série tem muitos momentos marcantes e emocionantes. Nós aqui no Brasil sabemos o quanto os coreanos, chineses e japoneses são excelentes em transmitir através de filmes e séries as nossas emoções mais básicas.
Essa frase inicial é dita por uma das personagens no quarto episódio e ela me marcou muito, porque confesso que até esse momento ainda não havia pensado sob esse ponto de vista das palavras.
Tenho a impressão de que não existe em nenhuma língua uma palavra que defina uma pessoa que tenha perdido o seu filho ou filha, e minha suposição é o fato de isso ser meio contra a evolução temporal sabe? Como os filhos vêm ao mundo em média quando os pais têm uns 20 anos ou mais (inclusive hoje em dia é comum que seja depois dos 30 anos…), pela lógica é esperado que os pais morram antes!
No entanto, sabemos que a impermanência faz parte da nossa vida, ou seja, ninguém sabe ao certo quando ou como vai morrer. É óbvio que o desejo da imensa maioria das pessoas é viver bastante e só morrer quando estiver bem velhinho, eu também tenho esse mesmo desejo!
Nessa hora lembro até de uma música pouco conhecida do Raul Seixas chamada “canto para minha morte” na qual ele cita diversas formas que nós seres humanos estamos sujeitos a morrer, até mesmo um escorregão idiota num dia de sol batendo a cabeça no meio-fio…
A moça da série morre por causa de um acidente na rua (não é spoiler, pois isso é colocado logo no comecinho viu?) e seus pais sofrem imensamente por perderem sua filha tão amada.
Meu maior intuito ao escrever esse texto é levantar uma reflexão que há tempos guardo comigo. Seria muito importante que houvesse não apenas por parte da família, mas até nas escolas ou em rodas de conversa, a abordagem desse tema.
No Brasil ainda é um tabu gigantesco falar sobre a morte. Quando alguém toca nesse assunto, a coisa mais fácil de ouvir é “vamos para com esse papo chato!…”. Como assim? A gente tem uma vida eterna nesse planeta por acaso? Às vezes quem fala esse tipo de frase está apenas querendo fugir de uma das maiores certezas que temos: todos nós vamos morrer um dia…
A meu ver, o mais bonito e reflexivo dentro dessa temática é saber que, estando vivos, podemos amar e ser amados, podemos oferecer nosso tempo para estar com quem a gente gosta, podemos oferecer nossos dons e talentos em prol de algo para a coletividade, podemos aprender um montão de coisas, estudar os mais diversos assuntos, estudar e aprender diversas línguas, conhecer diversos países e culturas, comer as maiores delícias possíveis e imagináveis etc.
Enfim! Estamos aqui por um tempo limitado e o que deveríamos fazer era viver em plenitude, cada momento, cada dia da nossa vida. Posso comprovar pela minha própria vida e experiências que quanto mais buscamos viver com consciência e plenitude, menor é a possibilidade de alimentar remorsos e arrependimentos.
Talvez vários leitores desse texto tenham vivido essa dor excruciante da perda de um filho, seja já com uma certa idade ou mesmo por aborto espontâneo. É uma dor inimaginável e que faltam palavras para descrever, mas o que digo para concluir é, viva todos os dias com intensidade, demonstrando seu amor, carinho e cuidado, pois esses são os maiores e verdadeiros remédios capazes de curar o coração dessa dor tão imensa. Caso haja algum sentimento de remorso, trabalhe em si mesmo o perdão, pois junto com o amor, ele tem o poder de transformar a vida para sempre…
E aproveito também para recomendar essa série, ela é riquíssima de ensinamentos e reflexões sobre a vida!
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A gente perde chave, celular, perde a hora, perde o trem mas não se perdem pessoas, porque elas não morrem quando viajam para outra dimensão. Também não se transformam em estrelinhas, um jeito estranho e pobre de explicar a morte, assim como se convencionou que bebês são trazidos pendurados no bico da cegonha, Aff Maria. No entanto temos uma vida inteira para estudar e entender que esta passagem chamada vida não é uma viagem de férias mas uma escola. Aprender é preciso. Aceitar que alunos deixam o colégio para os outros que chegam, é imprescindível. No entanto, é perigoso mensurar a dor de quem sofre mais quando alunos se vão carregando seus livros. Perdas serão sempre perdas e só quem as sofre é capaz de sabe-las. Quando alguém "perde" seu cão de estimação, não sofre menos do que aquele que perde seu filho, se o amava com o mesmo amor de um pai ou mãe.