Marcel Camargo

Nada mais parece durar: nem roupas, nem objetos, nem sentimentos

A minha infância durou muito, comparada à de meu filho. Eu brinquei na rua, na casa de amigos, nas pracinhas do bairro, ia ao clube nadar, jogar bola, sem nem pensar em namoro, até praticamente o fim do ginásio. A infância durava mais, bem como os brinquedos. A gente herdava brinquedos e roupas de nossos irmãos.

Como fui o caçula de seis filhos, eu raramente tinha o primeiro algo, porque a bicicleta, os brinquedos, os jogos de tabuleiro e até os livros escolares já tinham sido usados pelos irmãos mais velhos. Lembro-me de brincar com o Falcon, com Playmobil, de jogar piorrinha, de rodar pião e de jogar bolinhas de gude na saída do grupo, mesmo após os onze anos. Hoje, com onze anos, já vejo crianças preocupadas com namoro.

É incrível como tudo durava, desde móveis, utensílios, até brinquedos. Várias gerações utilizavam os mesmos produtos. Os móveis da casa de meus pais eram aqueles de quando eles casaram. Acho que talvez seja essa uma das razões de os sentimentos também terem sido mais duradouros naquela época, porque amizade costumava ser para sempre e os casais lutavam mais para ficarem juntos.

Hoje, nada dura, nem roupa, nem cadeira, nem carrinho de brinquedo, nem sentimento. É necessário consumir, é preciso comprar, afinal, os modelos vão se tornando antiquados e novidades são lançadas num piscar de olhos. Nada dura o bastante, o que, infelizmente, acaba ocorrendo também no plano afetivo, no tocante às relações humanas. A necessidade de compra acabou contaminando os sentimentos, que passaram a ser comprados também.

Da mesma forma, essa velocidade desmedida que permeia os nossos dias acaba nos distanciando da necessidade de nos demorarmos, em certos momentos, em determinadas ocasiões, junto a pessoas especiais. Parece que tudo tem que ser já, para ontem, inclusive o amor – daí a conquista quase nem mais existir, infelizmente. Com isso, muitos casais apressam-se e se esquecem de se conhecerem de fato antes de tomarem decisões de vida.

Logicamente, é utopia querer que voltem os comportamentos de outrora, uma vez que o mundo sempre segue e se moderniza, tornando os costumes algo a ser também transformado, afinal, não caberiam, hoje, muitas atitudes que eram comuns lá atrás. Mesmo assim, o amor ainda deve ser algo desenvolvido com cuidado, tempo e disposição, refletido e levado a sério.

Amor requer demora, comprometimento e dedicação, pois é dele que se alimentam os nossos mais belos sonhos de vida. É o amor que nos ajudará a não cair, sempre que a vida disser não. Demoremos, pois, ao menos no amor.

Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash
Publicado originalmente em Prof Marcel Camargo

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar".

Share
Published by
Marcel Camargo
Tags: amor durar

Recent Posts

Esse filme de romance da Netflix é a dose leve e reconfortante que seu fim de ano precisa

Se você é fã de histórias apaixonantes e da fórmula que consagrou Nicholas Sparks como…

2 dias ago

Na Netflix: Romance mais comentado de 2024 conquista corações com delicadeza e originalidade

Se você está à procura de um filme que mistura sensibilidade, poesia e uma boa…

4 dias ago

Pessoas que foram mimadas na infância: as 7 características mais comuns na vida adulta

Uma infância marcada por mimos excessivos pode deixar marcas duradouras na personalidade de um adulto.…

6 dias ago

“Gênios”: Saiba quais são as 4 manias que revelam as pessoas com altas habilidades

Alguns hábitos podem parecer apenas peculiaridades do cotidiano, mas segundo estudos psicológicos e pesquisas científicas…

6 dias ago

As 3 idades em que o envelhecimento do cérebro se acelera, segundo a ciência

O envelhecimento é um processo inevitável, mas não linear. Recentemente, cientistas do Primeiro Hospital Afiliado…

1 semana ago

Desapegue: 10 coisas para retirar da sua casa antes de 31 de dezembro

Fim de ano é sinônimo de renovacão. Enquanto muitos fazem balanços pessoais, é também um…

1 semana ago