Ainda bem pequeninos aprendemos a abraçar o amiguinho, na escola damos a mão para fazer a ciranda e não economizamos beijos quando se trata de quem amamos. Desde cedo aprendemos que tocar o outro é sinal de afeto, reconhecimento e boas-vindas!
Somos brasileiros e, como diz a fama, somos um povo caloroso e de contato. Temos orgulho disso! Dizemos por aí, incansavelmente, quando o assunto é viagem internacional, estrangeiros em nossa terra ou sobre diferenças culturais que o mais bonito do brasileiro é a alegria, esse sentimento que se traduz em toque.
Porém, neste momento, um vírus preconiza que nos afastemos fisicamente! Não é momento de nos tocarmos, por mais que o nosso hábito nos induza a tal. A hora é de nos contermos e, sempre que possível, ficarmos em casa. Fica a sensação de estarmos vendo aquele filme de ficção científica que dá medo, mas o difícil é que agora somos personagens dele. Acompanhamos os noticiários estarrecidos, estamos vendo empresas e comércios fechando as portas, provisoriamente, ou se adaptando ao possível real. Nos dividimos entre aqueles que duvidam que tudo isso seja assim tão alarmante e os que, precavidos, seguem à risca todas as recomendações.
Quem precisa sair de casa percebe meio incrédulo o esvaziamento das ruas, os ônibus com poucas pessoas, as portas dos restaurantes fechados, enquanto nos supermercados as filas se alongam com carrinhos cheios de produtos. Estarrecidos sabemos de cidades que decretam o isolamento, enquanto outras não acreditam que tudo seja real.
Se nas farmácias falta o álcool em gel ou se o preço dele fica espantosamente alto, no nosso coração as prateleiras permanecem com seus produtos variados: a fé, o medo, a dúvida, o amor, a prudência, o respeito e o cuidado. Ali, esses itens se esgotam e se misturam, sustentados pela espera do tempo.
Quarentena, isolamento e home office se tornaram palavras corriqueiras, ao mesmo tempo em que tememos por aqueles que não as têm como uma opção. Lá fora, os balconistas de supermercados trabalham, os profissionais de saúde e segurança triplicam a jornada. O mundo, como sempre, soa incoerente e exige de nós resiliência.
Agora é hora de recolhimento, de gestos contidos, de manter as mãos e os objetos limpos. Um vírus nos obriga a desacelerar, a mais uma vez compreender que dinheiro, origem ou cor da pele não nos difere. Somos todos humanos, navegantes de um mesmo barco.
Por isso, estou guardando meus abraços para os dias que virão, imagino as mãos que se apertam em nome de novos projetos e sorrio ao pensar nos beijos que estão por vir. Calmarias e tempestades fazem parte do roteiro.
Imagem de capa: Pexels
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