Nós mulheres saímos da cozinha e fomos para o ringue da vida. Fico estarrecida com tanta autoafirmação que leio atualmente, e me pergunto até que ponto a gente ataca para se defender.
As redes sociais são vitrines do orgulho de dar conta. Dar conta da casa, dos filhos. Do trabalho, da academia. Do tempo que se encontra para o happy hour com a make e o decote perfeitos. Dar conta da vida, de conquistar um espaço que era do outro, apenas do outro. Dar conta de ser linda, atlética, resistente, a que inverga-mas-não-quebra. Dar conta das contas, da dieta, do tempo, da saúde, dos problemas que evitamos falar. Nunca a imagem de guerreira foi tão pregada.
Até bem pouco tempo atrás, homem não chorava. Hoje em dia, mulher não chora. Chorar é para os fracos, e estrogênios são fortes. Implacavelmente fortes.
Há uma enxurrada diária de legendas, de frases de efeitos, muitas vezes tentativas de camuflar uma dor latente, aquelas que camadas de maquiagem, litros de silicone, centímetros a menos na roupa regados a doses cavalares de bebidas fortes camuflam disfarçam [quase sempre muito] bem.
Mas sabe? Não estar todo-santo-dia bem não é fraqueza. Não ter o corpão padrão da gostosa do IG bombado não é desleixo. Ficar off de vez em quando não é fragilidade. Essa apologia à autossuficiência soa solidão porque bem sabemos, ninguém é autossuficiente. Não o tempo todo.
Eu já vi guerreiro chorar. Já vi guerreiro assustado, preocupado, com medo. Eu já vi guerreiro pedir colo, se afastar para gritar de desespero. Já vi guerreiro pedir conselho, já vi guerreiro ter dúvidas. Sim, guerreiros se prostram, se arrependem. Guerreiros se cansam, mudam a rota. Guerreiras também. Não ser perfeita é humano, vê se não perde isso! É o que você tem de mais bonito. E de libertador.
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