CAÓTICO
Bagunçou foi tudo.
Eu queria poder começar com alguma frase mais bonitinha, mas tudo cabe nessa três palavrinhas. Dá para resumir tudo à C A O S, mas não quero engrandecer algo que, por ora, ainda tá pequeno, quase tão pequeno quanto meu coraçãozinho miúdo que espremeu-se de tanto sentir.
Enxergo a bagunça e a bagunça me enxerga de volta. Tá ali, para todo mundo ver. Passei por cima dez vezes e não arrumei nada. Preguiça? Capricho? Sei lá. A verdade é que estou gostando um pouco dessa desordem, aproveitando o masoquismo que é sentir saudade da ameba da minha ansiedade, que seja só um pouco. É como se a taquicardia me tornasse mais viva, mais elétrica, mais atenta à tudo. O mundo rodando em câmera lenta enquanto tudo grita e corre aqui dentro.
Vai cair tudo, prevejo. Uma chuva torrencial que vai lavar e levar tudo embora. Então não há motivos para perder tempo arrumando a bagunça, que não sei nem quem causou. Não sei se fui eu quem baguncei tudo ou se as coisas já estavam bagunçadas e eu, nessa ânsia de abraçar o mundo, não via.
Entre toda a bagunça que passei a enxergar, uma gosto mais. É loucura, eu sei. Mas eu perco minutos do meu dia absorvendo aquela desordem com um prazer particular. Vem até um sorriso bobo, que alimento com vontade e imaginação. Eu dou forma para o caos, porque acabou de virar.
Enquanto rascunho essas palavras sem nexo, ignorando propositalmente a bagunça que ali está — e que pior vai ficar, instala o caos. Do lado de fora, do lado de dentro. AGRIDOCE. Um desespero contido enquanto os ombros balançam, para cima e para baixo, como quem não se importa, porque não adiantará em nada se importar.
Sento no chão. Olho para o caos bagunçado e doce. Chove. Eu levando a desordem e bagunço mais um pouco. Ali fico, permaneço. Agora o caos, também sou eu.
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