Vanelli Doratioto

Para fazer a diferença basta apenas fazer com o coração

Hoje a moça que faz sucos está pesarosa. Na fachada do seu negócio pisca ao longe a luz da tristeza. Hoje o suco não vai ter gosto de vida nova. Hoje o suco não vai ter gosto de amor. Hoje o suco não vai curar o coração e a saúde do outro. A moça dos sucos está triste porque esqueceu da beleza mágica de preparar bem-estar com as mãos por meio de misturas de ervas e frutas espremidas.

Hoje a moça que faz sucos tão gostosos não vai trabalhar. Vai pedir para alguém a substituir atrás do balcão. E o suco que sempre foi divino, vai ser um suco do mundo, como outro qualquer. Preparado com uma desatenção tão própria dos nossos dias. Hoje não vai ter queijo da fazenda na vitrine de frios. Não vai ter suco pra curar ressaca e virose. Só vai ter aquilo que todo mundo sabe fazer.

Hoje a moça dos sucos passou parte do seu dia chorando, sentada na mesa da cozinha, pensando nas injustiças. Pensando no que poderia ter sido e não foi. Pensando no mundo de fora. Hoje ela fechou as janelas do seu eu. Desceu as cortinas da desesperança sobre a sua gentileza e cuidado e chorou feito criança.

A moça dos sucos não sabe, mas ela me ensinou uma lição maravilhosa sobre o propósito de cada um de nós. Ela me ensinou que pra curar não precisa ser médico, que pra ajudar não precisa ser voluntário da Cruz Vermelha. A moça dos sucos me ensinou que é errado perseguir nosso propósito como um cão que tenta abocanhar desesperadamente a própria cauda.
Ela me ensinou que o nosso propósito inegavelmente nos alcança quando fazemos com amor.
Com ou sem diploma. Não importa a formação que o mundo exige, para fazer a diferença basta apenas fazer com o coração.

A moça dos sucos mudou vidas com suas vitaminas e misturas. Curou doenças, sem prometer nada em troca. Fez tanta gente sorrir e ficar bem que perdeu a conta dos agradecimentos. Seus copos transbordavam diariamente atenção, amor e cuidado.

Um suco de abacaxi com hortelã pode não ser só um suco de abacaxi com hortelã, uma palavra pode não ser só uma palavra, um sorriso pode não ser só um sorriso. Pequenos milagres acontecem todos os dias. Coisas fantásticas passam desapercebidas em meio à gritaria daqueles que enchem os ares de promessas vazias.

A moça do suco não sabe o bem que ela faz ao mundo. Sua missão é curar e confortar. Ela nunca pisou em um congresso médico, mas sabe fazer remédio. A lanchonete da moça dos sucos é uma clínica de cura. Assim também é a livraria da esquina na qual o livreiro receita livros para fechar feridas da alma. Assim são as palavras do poeta Isaias, filho de pastor, que ao invés de pregar no púlpito o faz através dos seus livros de poemas impressos e vendidos por ele mesmo. Assim são essas minhas palavras, palavras de uma mulher que cozinha tão mal, mas que prepara um texto com o melhor que tem em si.

Moça dos sucos, aceita essas minhas palavras e toma elas com carinho. É a forma de curar que a vida me ensinou. Mata por mim essa sua sede, levanta dessa mesa e vai embalar o mundo com seu cuidado. Você nasceu pra isso. Não ignore a sua força. Não diminua o seu propósito. Que estas minhas palavras possam te animar e que você volte por elas a amar. Que você volte por elas ao seu recanto sagrado, descobrindo curiosas formas de misturar seivas e com elas curar. Bebe o que te escrevo e volta a amar. Volta, moça bonita.

***

Acompanhe a autora Vanelli Doratioto em Alcova Moderna

Hoje a moça que faz sucos está pesarosa. Na fachada do seu negócio pisca ao longe a luz da tristeza. Hoje o suco não vai ter gosto de vida nova. Hoje o suco não vai ter gosto de amor. Hoje o suco não vai curar o coração e a saúde do outro. A moça dos sucos está triste porque esqueceu da beleza mágica de preparar bem-estar com as mãos por meio de misturas de ervas e frutas espremidas.

Hoje a moça que faz sucos tão gostosos não vai trabalhar. Vai pedir para alguém a substituir atrás do balcão. E o suco que sempre foi divino, vai ser um suco do mundo, como outro qualquer. Preparado com uma desatenção tão própria dos nossos dias. Hoje não vai ter queijo da fazenda na vitrine de frios. Não vai ter suco pra curar ressaca e virose. Só vai ter aquilo que todo mundo sabe fazer.

Hoje a moça dos sucos passou parte do seu dia chorando, sentada na mesa da cozinha, pensando nas injustiças. Pensando no que poderia ter sido e não foi. Pensando no mundo de fora. Hoje ela fechou as janelas do seu eu. Desceu as cortinas da desesperança sobre a sua gentileza e cuidado e chorou feito criança.

A moça dos sucos não sabe, mas ela me ensinou uma lição maravilhosa sobre o propósito de cada um de nós. Ela me ensinou que pra curar não precisa ser médico, que pra ajudar não precisa ser voluntário da Cruz Vermelha. A moça dos sucos me ensinou que é errado perseguir nosso propósito como um cão que tenta abocanhar desesperadamente a própria cauda.
Ela me ensinou que o nosso propósito inegavelmente nos alcança quando fazemos com amor.
Com ou sem diploma. Não importa a formação que o mundo exige, para fazer a diferença basta apenas fazer com o coração.

A moça dos sucos mudou vidas com suas vitaminas e misturas. Curou doenças, sem prometer nada em troca. Fez tanta gente sorrir e ficar bem que perdeu a conta dos agradecimentos. Seus copos transbordavam diariamente atenção, amor e cuidado.

Um suco de abacaxi com hortelã pode não ser só um suco de abacaxi com hortelã, uma palavra pode não ser só uma palavra, um sorriso pode não ser só um sorriso. Pequenos milagres acontecem todos os dias. Coisas fantásticas passam desapercebidas em meio à gritaria daqueles que enchem os ares de promessas vazias.

A moça do suco não sabe o bem que ela faz ao mundo. Sua missão é curar e confortar. Ela nunca pisou em um congresso médico, mas sabe fazer remédio. A lanchonete da moça dos sucos é uma clínica de cura. Assim também é a livraria da esquina na qual o livreiro receita livros para fechar feridas da alma. Assim são as palavras do poeta Isaias, filho de pastor, que ao invés de pregar no púlpito o faz através dos seus livros de poemas impressos e vendidos por ele mesmo. Assim são essas minhas palavras, palavras de uma mulher que cozinha tão mal, mas que prepara um texto com o melhor que tem em si.

Moça dos sucos, aceita essas minhas palavras e toma elas com carinho. É a forma de curar que a vida me ensinou. Mata por mim essa sua sede, levanta dessa mesa e vai embalar o mundo com seu cuidado. Você nasceu pra isso. Não ignore a sua força. Não diminua o seu propósito. Que estas minhas palavras possam te animar e que você volte por elas a amar. Que você volte por elas ao seu recanto sagrado, descobrindo curiosas formas de misturar seivas e com elas curar. Bebe o que te escrevo e volta a amar. Volta, moça bonita.

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Acompanhe a autora Vanelli Doratioto em Alcova Moderna

Imagem de Sasin Tipchai por Pixabay

Vanelli Doratioto

Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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