É verdade que não podemos ficar apenas pensando nos outros, a ponto de sermos negligentes para com a nossa própria vida. Somente conseguimos ajudar o outro quando estamos bem, quando estamos fortes, ou seja, priorizar tão somente alguém lá de fora acabará por deixar o nosso interior oco, desequilibrado e enfraquecido.
O mundo carece de empatia, é fato. Poucos conseguem se colocar no lugar do outro sem julgar histórias que não são suas. Poucos são capazes de enxergar além do próprio umbigo. É lógico que o cotidiano estressante e atarefado a que nos submetemos fatalmente nos deixa cansados e adoecidos, incapazes de dar uma olhada além de nossas vidas. Acumulamos cansaço e fadiga, o que nos tira forças para agir além do que é compromisso pessoal.
Nesse contexto, vamos agindo feito robôs, ligados no automático, passando pelas ruas sem notar, passando pelas pessoas sem ver, vivendo sem sentir. As tarefas diárias e os compromissos obrigatórios tomam conta de nossos dias e, com isso, mal temos tempo de descansar ou de passar um tempo com nossos queridos. Que dirá termos tempo de perceber algo ou alguém que não faça parte de nossa vida. Nessa toada, infelizmente, muitos de nós ficamos cegos frente aos sentimentos dos outros.
Não podemos nos esquecer dos outros, não podemos deixar de notar as vidas além das nossas, não podemos enterrar nossos sentimentos sob o peso das atribulações diárias. Ou isso, ou acabaremos machucando as pessoas, ferindo os sentimentos alheios, tornando-nos cada vez mais insensíveis, mais distantes, menos afetuosos, menos gratos, menos gente. É preciso manter aqui dentro todo o afeto, todo o amor, todo o sentimento do mundo, ainda que lá fora chova, escureça, seja infértil, inóspito e cruel.
Se você absorver o que for pesado, insosso, o que for ruim, não terá nada além disso para devolver ao mundo lá fora e acabará ferindo e magoando as pessoas sem razão. E a grande maioria delas não tem nada a ver com isso. Evite carregar aquilo que não tem serventia alguma, para não ter que ficar pedindo desculpas o tempo todo. Porque pedir perdão é bonito, sim, mas evitar machucar as pessoas é lindo demais.
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Foto de Guillaume de Germain no Unsplash
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