saúde

Paciente com câncer terminal é curado com terapia genética brasileira

Homem de 62 anos tinha linfoma e precisava de morfina todos dias para aguentar as dores. Mas uma pesquisa da USP-Fapesp resultou num método 100% brasileiro que o curou do câncer. O procedimento foi o primeiro a ser realizado na América Latina.

Vamberto, que já não tinha mais esperanças de sobreviver, deixará o hospital livre dos sintomas do câncer, graças a um método 100% brasileiro baseado em uma técnica de terapia genética descoberta nos EUA e adaptada pra cá, conhecida como CART-Cell.

Segundo os médicos, o servidor público aposentado, respondeu bem ao tratamento. Ele tinha um linfoma e tomava morfina diariamente para suportar as fortes dores. Ele tinha a estimativa de apenas mais um ano de vida quando o câncer havia se dado por sendo como terminal. Felizmente, quatro dias após o tratamento, ele deixou de sentir as fortes dores causadas pela doença e uma semana depois voltou a andar, com câncer entrando em completa remissão.

“Essa primeira fase do tratamento foi milagrosa”, disse o hematologista Dimas Tadeu Covas, coordenador do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp) e do Instituto Nacional de Células Tronco e Terapia Celular, apoiado pelo CNPq e pelo Ministério da Saúde.

“Não tem mais manifestação da doença, ele era cheio de nódulos linfáticos pelo corpo. Sumiram todos. Ele tinha uma dor intratável, dependia de morfina todo dia. É uma história com final muito feliz.”

Os pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp-USP) do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, disseram que o paciente está “virtualmente” livre do câncer, mas ainda não falam em cura porque o diagnóstico oficial só pode ser dado após cinco anos de acompanhamento pós-tratamento. Tecnicamente, os exames indicam a “remissão do câncer”.

Antes de chegar ao interior de São Paulo, Vamberto tentou de tudo para curar-se: quimioterapia e radioterapia, mas seu corpo não respondeu bem a nenhum dos tratamentos. Em um deles, paliativo, ele usava uma dose máxima de morfina. Vamberto deu entrada no dia 9 de setembro no Hospital das Clínicas em Ribeirão com muitas dores, perda de peso e dificuldades para andar.

O tumor havia se espalhado para todos os ossos do seu corpo.

Foto: Hugo Caldato/Hemocentro RP/Divulgação

Seu prognóstico, de acordo com os médicos, era de menos de doze meses de vida. Como uma última tentativa, os médicos incluíram o paciente em um “protocolo de pesquisa” e testaram essa nova terapia, até então nunca aplicada em território nacional.

Os pesquisadores da USP – apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) – desenvolveram um procedimento próprio de aplicação, adaptado da técnica CART-Cell, que foi criada nos EUA, e ainda recente, pois ela está em fase de pesquisas e pouco acessível.

Nos EUA, os tratamentos comerciais já receberam aprovação e podem custar mais de Us$ 475 mil, mais de de 2 milhões de reais.

A CART-Cell é uma forma de terapia genética que além dos Estados Unidos, também já é utilizada na Europa, China e Japão. Ela consiste na manipulação de células do sistema imunológico para combaterem as células causadoras do câncer.

A estratégia da CART-Cell consiste em habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de identificar o tumor.

O ataque é contínuo e específico e, na maioria das vezes, é necessário somente uma única dose.

Renato Luiz Cunha, outro dos responsáveis pelo estudo brasileiro, explicou que a terapia genética consegue modificar células de defesa do corpo para atuarem em combate às que causam o câncer.

“As células vão crescer no organismo do paciente e vão combater o tumor”.

“E desenvolvemos uma tecnologia 100% brasileira, de um tratamento que nos EUA custa mais de US$ 1 milhão. Esperamos que ela possa ser, no futuro, acessível a todos os pacientes do SUS.” , completou o médico.

Cunha recebeu, em 2018, o prêmio da Associação Americana de Hematologia (ASH), nos EUA, para desenvolver este estudo no Brasil.

Com informações do G1

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