Moçambique finalmente aprovou a lei que proíbe o casamento de adultos com crianças, que historicamente são trocadas – ainda em idade escolar – por dinheiro ou produtos.
A Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras foi promulgada esta semana pelo presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi.
Aprovada em julho pela Assembleia do país, a lei criminaliza as uniões com pessoas com menos de 18 anos. A pena é de até oito anos de prisão ao familiar que obrigue uma criança a aceitar a união e de até 12 anos e multa para o adulto que viver maritalmente com alguém menor de idade
A lei sofreu resistência pro anos até ser finalmente aprovada. Moçambique infelizmente lidera as taxas mais elevadas de uniões prematuras no mundo.
As províncias de Nampula, Zambézia, Cabo Delgado, Tete e Manica, no norte e centro do país, são as mais afetadas com essa triste realidade.
O educador António Chissambe, residente em Machaze, um distrito com grandes índices de casamentos de menores, revelou que existem muitos casos em que homens “encomendam” meninas para se casarem com eles.
“Temos muitos homens que trabalham na África do Sul e, estando lá, eles solicitam aos pais que procurem uma menina em Moçambique. Muitas vezes os pais acabam por entregar uma menina em idade escolar”, disse Chissambe para a DW África.
A diretora da organização Save the Children em Manica, Ana Dulce Chiluvane, revelou que crianças chegam a ser trocadas por até por bicicletas.
“No distrito de Machaze, muitas famílias aceitam trocar uma bicicleta por uma menina para casamento”, revelou Ana Dulce Chiluvane.
“Manica parece ser a província moçambicana mais afetada pelo fenômeno, havendo até muitas meninas, sobretudo de famílias pobres, que são prometidas em casamento ainda antes de nascerem, já que os supostos maridos suportam as despesas enquanto a mãe está grávida”, afirma.
Mas essa lei que representa um marco histórico para o país é só o começo de uma grande luta. Começa agora uma nova etapa e com desafios para disseminar a lei entre toda a população, para que todos possam segui-la e ajudarem a proteger as meninas contra as uniões prematuras.
“Mudar somente as leis é só o primeiro com as uniões prematuras, é preciso também mudar as condições, atitudes e comportamentos da população, e vamos continuar a trabalhar arduamente para tal” declarou o Unicef de Moçambique.
Com informações do Unicef, DWAfrica e RFI
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