A gente vai envelhecendo e nosso coração passa a ficar menos eufórico com os malabarismos do mundo; fica mais brando, começa a bater de um jeitinho diferente num domingo de sossego; passa a apreciar mais o cheiro do mato, o silêncio, a voz calma. Passa a sentir com mais tato as coisas únicas e sobretudo entender que somos passageiros e aquilo que aquece nosso coração deve ser vivido com intensidade, mas com a calma de quem logo logo está de partida.
Lembro a última vez que vi o sol nascer. Não era de nenhuma montanha na Suíça ou de uma praia na Itália, era um canto abandonado numa cidade pequena, com uma vista que, por alguns minutos, me fez sentir sobre as nuvens. Tenho pra mim que a gente vê com a intensidade que nosso peito sente. Eu sei que sou piegas, poeta bobo do dia a dia, que insiste ver em tudo um pouco de poesia, meu peito aquece com gestos, meus olhos se molham com besteiras, é como pensar em você e um cafuné numa noite de quarta-feira.
Abasteci a fé pra acreditar que o meu peito, que andou perdido, pode morar nesse teu sorriso que perto ou longe assossega um querer desmedido, de quem aprendeu sobre paciência, só pra te esperar. Eu sei que a gente se assusta, fica medindo as palavras, é essa responsabilidade afetiva da qual falam né, que eu chamo de não foder com ninguém e não me foder também, mas, eu não consigo entender quem não tropeça nos versos depois de encontrar dessa luz que brilha nos teus olhos.
Encontre aquelas taças que ficam guardadas, e suas histórias que nunca contou, deixe uma garrafa sobre a mesa, desnude tua alma que o vinho aquece o peito e nossas vontades. Se fizer frio ou calor lá fora, se ventar ou fizer chuva, não vou ter pressa pra voltar. É que eu sei que quando o peito sente pulsar diferente, quando o tom da tua voz norteia meu rumo, com jeito de quem aprendeu sozinho a andar, faço uma oração, e vou pra perto de ti, que é onde mora meu coração.
Foto de Rodolfo Sanches Carvalho em Unsplash
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