O nome desse simpático vendedor de picolé de 68 anos é Francisco Santa Filho, mas ele é popularmente conhecido na comunidade como “Zezinho”. Infelizmente, Zezinho é mais um retrato dos numerosos e profundos contrastes sociais do nosso país.
Zezinho trabalha como vendedor de picolé há mais cinquenta anos. Assim como muitos que vivem na desigualdade, ele começou a trabalhar ainda adolescente, com apenas 12 anos, em frente ao Colégio Diocesano, tradicional instituição particular de ensino do município de Crato, no Ceará.
Infelizmente, Zezinho passou grande de sua vida analfabeto, mas agora, com a ajuda de uma jovem e dedicada “professora”, ele tem ganhado cada vez mais intimidade com as letras.
A sua jovem professora é Bárbara Matos Costas, de apenas 9 anos, que estuda no Diocesano há dois. Ela tem ensinado o vendedor a ler e a escrever após cumprir com os seus horários na escola.
Uma das aulinhas da professora Bárbara foi fotografada pela psicopedagoga Risélia Maria, que publicou a foto no Facebook há alguns dias, e desde então ela tem viralizado nas redes sociais.
As aulas da Bárbara com o aluno Zezinho acontecem em frente à escola, sentados no chão, onde manuseiam os livros e cadernos absolutamente concentrados. “O Zezinho merece um dez!”, elogiou a professorinha que não fez segredo sobre seus métodos de ensino. “Às vezes, eu escrevo uma palavra com tracinhos para ele cobrir, como “picolé” e “amor”. Também coloco as letrinhas para ele juntar”, diz ela, que tem o sonho de ser médica, veterinária ou masterchef.
Zezinho celebra e agradece pelo seu progresso em meio às aulas com a jovem. “Já sei assinar meu nome e juntar algumas letras. Ela me ensina aos pouquinhos e eu vou aprendendo devagar”, relata o idoso muito emocionado, que antes dizia “não ter cabeça” para aprender mais nada.
Francisco “Zezinho” Santa Filho nasceu em Crato em 1951, e nunca deixou o município. Ele começou a vender picolés aos 12 anos para se sustentar e jamais teve acesso uma oportunidade de educação. A sensibilidade de Bárbara lhe rendeu chance real de estudar. “Com a repercussão dessa história, estamos montando para ele um material de alfabetização. A professora Risélia também está se dispondo a ensiná-lo. Francisco diz que o tempo dele é corrido por conta dos picolés, mas a Risélia está bem disponível. É só ele querer”, diz a coordenadora pedagógica Nágela Maia.
A psicopedagoga Risélia Maria também destaca algumas lições que diz ter aprendido com a história de Bárbara e Zezinho. “Quando eu vi a cena desta aluna ensinando a ele, isso me comoveu muito. Encarei como um aprendizado para mim enquanto educadora. Já era para nós termos tomado a iniciativa de ensiná-lo a ler e a escrever, pois faz muitos anos que ele vende picolé ali nas redondezas do colégio. Eu mesma sou ex-aluna da escola e fui “cliente” dele na infância. Leciono faz mais de 30 anos. Precisou que eu presenciasse aquela cena para me tocar”, reflete Risélia.
Fonte indicada: Agência Miséria / Foto de capa: Reprodução
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