“Porque os anjos são homens nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer”.
José Saramago
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Já li essa frase do Saramago inúmeras vezes, e como sempre gosto de repetir, esse autor estupendo tinha o poder de escrever textos e livros que permitem as mais diversas interpretações e aprendizados.
Na data em que publico esse texto me bate uma saudade grande de um dos senhores que mais me inspira, principalmente com relação à escrita, o querido Rubem Alves, que nos deixou no dia 19/07/2014.
Lendo um pouco sobre a biografia dele e as diversas fases que ele vivenciou, essa frase se encaixa perfeitamente. Aliás, vale destacar que o Saramago era um dos autores que ele amava. Não duvido que ele tenha lido quase a totalidade dos seus livros…
O Rubem foi um menino meio traquina que nasceu em 1933 numa cidadezinha de Minas Gerais chamada Boa Esperança. Tinha muitos sonhos, assim como toda criança. Muitos dos seus parentes achavam que ele se tornaria um engenheiro, porque gostava de mexer, de futricar em coisas quebradas, ou para tentar consertar ou para criar brinquedos.
Em diversas crônicas ele escrevia o quanto amava criar seus próprios brinquedos e refletia sobre o quanto esse exercício desenvolve a nossa inteligência. Mas a vida e toda a sua curiosidade o fez trilhar os mais diversos caminhos, foi pastor, formou-se em Filosofia, fez doutorado em Teologia nos EUA, lecionou por muitos anos na UNICAMP, apaixonou-se pela literatura infantil, pela jardinagem, por contação de histórias, pela psicanálise etc. etc.
Ele nasceu sem asas, assim como todos nós, mas ao longo da vida suas asas foram crescendo e ele foi se tornando esse pássaro encantado, capaz de hipnotizar até os que nunca tiveram vontade de abrir um livro para ler.
Inclusive, quando converso com pessoas que dizem pra mim que não gostam de ler, que é só abrir um livro que começam a dormir. Eu digo assim: “Você já ouviu falar de um autor chamado Rubem Alves? Pegue algum livro dele pra ler que provavelmente sua concepção sobre as leituras vai mudar…”. E posso afirmar que já obtive feebacks mega positivos de pessoas que aprenderam a amar a leitura a partir dos livros do Rubem!
As asas são uma das mais belas simbologias para a liberdade, uma palavra que para ele tinha uma magia e sedução quase inimagináveis. Talvez esse seja um dos pontos que mais me faz ser fã dele. A estória da menina e o pássaro encantado, que era uma das suas favoritas, expressa essa liberdade de forma belíssima. O pássaro só podia ter seu encantamento se vivesse livre e pudesse viajar para os mais distantes lugares quando sentisse vontade. Viajava para voltar cheio de histórias bonitas sobre os locais que visitou e trazendo as cores de lá impressas em suas penas.
E essa liberdade era muito expressada também na analogia com a lagarta que vira borboleta após passar por um longo e dolorido processo de sair do seu casulo. Ela não pode ser ajudada por ninguém que queira facilitar esse processo, porque se isso ocorrer, ela fica muito frágil e acaba morrendo sem alcançar o mais alto dos céus…
Essa é outra bela interpretação da frase do Saramago. Nós nascemos sem asas e as fazemos crescer a partir dos sofrimentos que vivemos ao longo da vida, que nos ajudam a amadurecer, e à medida que esse amadurecimento acontece vamos nos tornando mais leves, mais serenos, já não temos mais aquela pressa maluca da juventude, na qual queremos fazer um monte de coisas ao mesmo tempo!
Ele na velhice tinha essa leveza e serenidade, que se refletia não apenas nos diversos livros belíssimos que escreveu, mas também no amor que ele dedicava aos seus netos. Diversas crônicas foram inspiradas em vivências singelas com as netas. Tenho certeza que nesse convívio próximo, ele ensinou tanto os filhos quanto os netos a também desenvolverem suas asas e alçarem altos voos…
Enfim! Falar sobre Rubem Alves é falar de amor, de poesia, de cuidado, de criatividade, de infância, de brinquedos, de Ipês amarelos (que eram os seus favoritos), de Deus, da mente humana, de Filosofia, de comidas gostosas, de Educação, de sonhos, de futuro, de amizade etc. etc.
Essa é só uma pequena homenagem a esse senhor que nos deixou em 2014, mas que se eternizou no coração de milhares de pessoas…
Por Isaias Costa
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