O primeiro dia no trabalho sempre é estranho: um novo lugar, novos colegas e desafios. O parceiro que virou amigo não senta mais do seu lado e a senhorinha simpática do cafezinho não está mais na copa contando sobre o último livro que ela leu. Você, claramente, decidiu seguir um novo caminho e pelo percurso estão um novo chefe e a oportunidade de contar uma nova história. O que parecia ser uma boa ideia, de repente traz na mala o medo, o frio na barriga e aquela sensação de insegurança. O barco, antes atracado, levantou a âncora e partiu para outros mares. As marés, tão diferentes da aparente calmaria do porto, exigem olhos atentos e atitude.
_ O que é aquilo no mar? É um tubarão ou é um golfinho?
Quem vê pela primeira vez não consegue diferenciar. A incerteza soa como ameaça, mas sabemos que a mente pode se pior que a realidade. “O mundo lá fora” é uma metáfora tão bonita sobre desbravamento, mas não diz respeito a tamanho ou distância. Fala sobre decisões a serem tomadas.
Suspeito que “movimentar” é um verbo conjugado pela tal felicidade: conforme vou vivendo, movimento-me através das escolhas que faço em busca de uma vida que faça mais sentido. E por meio dos nãos e sins que digo, me torno fruto das experiências. Um fruto às vezes verde, impossibilitado de ser degustado; caído ao chão, maduro de tão velho; vermelho e suculento à espera da mordida. Sou conforme as estações e modifico-me de acordo com os outonos e as primaveras, o que significa que nem sempre estou preparada ou adequada, mas constantemente fiel à árvore que, diante das tempestades, segue valente graças às suas raízes sadias.
Viver é mudar, mesmo que isso seja contra a nossa vontade. Por isso, que o novo venha a partir das minhas escolhas, mas se ele se achega sem o meu convite aparente, que eu faça da mudança a oportunidade de evoluir.
Pessoas que abandonam empregos estáveis para investir no próprio negócio, gente que troca a cidade grande por um sítio cercado de silêncio e paz ou que, diante de um incidente da vida, muda seus planos e se reinventa. Há quem precise de novidades constantes para ser feliz e há os que precisam da rotina para sentir paz. Mas, independentemente dos gostos pessoais, a vida flui e nas curvas dos rios, ela se transforma.
Nas mudanças da vida, que sejamos como barcos resistentes às marés, como as árvores de raízes profundas ou como os viajantes de um mundo lá fora… Humanos, desbravadores das nossas próprias possibilidades.
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