Cristiane Mendonça

O amor nos tempos do cólera sabe esperar

Eu achei que tinha vivido uma paixão platônica na adolescência, mas conheci o Florentino Ariza no livro “O amor nos tempos do cólera”  e mudei de opinião, já que ele, ao contrário de mim, manteve por mais de 50 anos um “crush” pela Fermina Daza, a mulher que ele amou desde os tempos da juventude, mas que se casou com o médico Juvenal Urbino.

Florentino e Fermina se conheceram jovens e mantiveram por três anos um namoro por correspondências. O pai da garota descobre o romance e os separa já que ele tinha outros objetivos matrimoniais para a filha. Separados, eles seguem rumos muito diferentes na vida.

Certo de que um dia sua amada ficaria viúva, Ariza dedica a vida a esperá-la enquanto se conforta nos braços de outras mulheres, sem nunca assumir um compromisso real com nenhuma delas. Enquanto ele seconsolava em outros braços, Fermina Daza vivia sua vida de mulher casada e mãe de família em uma sociedade que seguia todos os rigores do final do século 19.

Dica de livro de romance, no gênero realismo-fantástico, a obra fala de amor na terceira idade, das crises no casamento e de amores tão diferentes daqueles que vivemos hoje, sempre rodeados pela urgência. Refém de seu tempo, “O amor nos tempos do cólera” também tem passagens incômodas que se referem ao comportamento dos homens em relação às mulheres e que, atualmente, não são mais aceitáveis.

Autor – Escrito pelo colombiano Gabriel García Márquez e publicado pela primeira vez no ano de 1985, o livro foi inspirado na história dos pais do autor quando se conheceram. Márquez, que foi Prêmio Nobel de Literatura em 1982, criou uma narrativa rica em detalhes e capaz de nos fazer viajar no tempo por meio de personagens que soam quase reais! Este, aliás, é um dos pontos fortes do autor que serve de rica inspiração não somente para quem o lê, mas para aqueles que também gostam de se dedicar à escrita! Ler García Márquez é uma aula de Literatura!

Filme – O livro se tornou filme em 2007 (Veja o trailer abaixo) e foi protagonizado por Javier Bardem como Florentino Ariza – na minha opinião, os produtores foram bem generosos com a estética do personagem, já que no livro ele é descrito como um homem de poucos atributos físicos – além de Giovanna Mezzogiorno como Fermina Daza e Benjamin Bratt como o doutor Juvenal Urbino. Infelizmente, o filme não está disponível no catálogo da Netflix, mas se alguém souber onde posso encontrar o filme, gentileza me dar a dica!

Citações – Para quem deseja sentir o gostinho da obra, seguem abaixo algumas frases de “O amor nos tempos do cólera”:

“Então foi ela quem procurou dar-lhe novo ânimo para ver o futuro, com uma frase que ele, em sua pressa estouvada, não soube decifrar: Deixe que o tempo passe e já veremos o que traz.”

“… mas se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão à luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos.”

“O padrinho de Florentino Ariza, antigo homeopata que tinha sido confidente de Trânsito Ariza desde seus tempos de amante oculta, se alarmou também à primeira vista com o estado do enfermo, porque tinha o pulso tênue, a respiração rascante e os suores pálidos dos moribundos. Mas o exame revelou que não tinha febre, nem dor em nenhuma parte, e a única coisa que sentia de concreto era uma necessidade urgente de morrer. Bastou ao médico um interrogatório insidioso, primeiro a ele e depois à mãe, para comprovar uma vez mais que os sintomas do amor são os mesmos do cólera.”

Trailer do filme “O amor nos tempos do cólera”:

Imagem de capa: reprodução

Cristiane Mendonça

Cris Mendonça é uma jornalista mineira que escreve há 14 anos na internet. Seus textos falam sobre afeto, comportamento e Literatura de uma forma gostosa, como quem ganha abraço de vó! Cris é também autora do livro de crônicas "Mineiros não dizem eu te amo".

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