Agora, é tarde demais. Não há como apagar o que foi dito e desfazer o que aconteceu. Devolver o que foi tomado, reinventar um início ao que chegou ao fim, antes mesmo de começar. Resta somente o velho clichê de que foi bom enquanto durou, haja vista que realmente o foi.
É tarde demais para procurar culpados, fazer julgamentos e condenar por aquilo que foi construído em conjunto. Estradas opostas que se cruzaram para traçar parte de um caminho que já não divide a mesma rota. Talvez, o único culpado seja o destino a contar piadas sem graça, que nos furtaram a leveza de rirmos um para o outro. Talvez, a culpa seja dessas palavras desconexas e confusas, cujo remetente não sabe mais o que fazer com elas.
É tarde demais para explicar o que nem a razão conseguiu entender, para dar voz a sentimentos exagerados e carentes que aos poucos se calaram. Ainda que o silêncio grite a presença da sua ausência, às vezes, me esqueço que você se foi e que não existimos mais, no plural. Conjugar essa história no singular fere a gramática de duas almas que vivem um infinito pretérito imperfeito.
É tarde demais para recomeçar a escrever esse monólogo solitário e sem lugar, que insiste em ser ouvido. E teima em existir nessas orações sem sentido que não sabem o que dizem. Tentam se convencer de que é tarde e que não há mais jeito, porque não aceitam que, na verdade, tantos paradoxos e figuras de linguagens querem o contrário de tudo o que foi dito desde o início…
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