Tomou a internet nos últimos dias um vídeo fofíssimo em que crianças de uma isolada comunidade na Zâmbia, país da África oriental, aparecem dançando descontraidamente a música “Ponta de Lança Africano, conhecida também como Umbabarauma, do artista Jorge Ben Jor. O registro foi feito por um casal de brasileiros, a nutricionista Daniella Schuarts e o fotógrafo Leonardo Salomão. O vídeo, produzido em 2015, viralizou nos últimos dias e chegou até o próprio Jorge Ben Jor.
Os meninos que, na época, tinham entre 6 e 12 anos, são da comunidade Goba e moram na pobre vila de Mugurameno, na província de Chiawa, fronteira com o Zimbábue. Vivendo às margens do rio Zambeze, eles estão em uma região próxima de grandes resorts, mas não chamam a atenção dos turistas em busca de safáris.
Daniella Schuarts conta que, em janeiro de 2015, viajou com o então namorado – e hoje marido–, Leonardo Salomão, no Projeto Evoé, sobre cultura alimentar, que passou por países africanos e asiáticos.
Vejam o vídeo:
Em busca do modo de vida tradicional e de hábitos alimentares locais, os dois chegaram ao Zimbábue, onde conheceram um homem que contratou Leonardo para fotografar a viagem em um safári de canoa que ele faz pelo rio Zambeze.
Esse homem apoiava a escola comunitária da Vila de Mugurameno e pediu, durante o trajeto, que fossem feitas fotos do local para que ele pudesse buscar doações para a instituição.
“Quando chegamos, tinha criança que chorava, porque não entendia quem a gente era. Elas não estavam nem um pouco acostumadas com estrangeiros”, lembra Daniella.
A economia local é baseada na cultura do milho. Embora haja vendinhas com produtos industrializados, os moradores vivem muito isolados culturalmente, relatou a viajante.
Alguns poucos conseguem empregos nos grandes hotéis da região. “Achar um emprego em um resort é uma grande conquista, mesmo que executem as tarefas mais simples, como limpeza. O auge é ser guia do hotel, mas são pouquíssimos homens que conseguem. As mulheres nem saem da aldeia”, afirma Daniella.
Embora a comunidade não tivesse acesso a meios de comunicação, os moradores são muito ligados à música e à dança.
“Apesar de não ter rádio ou TV, eles têm instrumentos musicais e dançam muito os ritmos africanos. As crianças têm esse requebrado. É muito engraçado”, conta Daniella.
Na véspera de deixar a região, Daniella e Leonardo resolveram organizar uma “surpresa” para as crianças que, até então, nunca tinham escutado música brasileira.
“A gente juntou as crianças que queriam participar e falou que ia fazer uma surpresa. Quando tudo estava posicionado para conseguir um ângulo legal, ligamos a câmera e o resultado foi esse que está no vídeo.”
“Foi uma identificação total. É igual a gente quando a gente escuta uma música africana. Você não sabe como, mas aquilo te agrada porque você se reconhece. Você não consegue muito explicar, mas você sente que de alguma maneira aquilo está conectado [à sua cultura]”.
As crianças só viram as imagens depois. “Eles amaram.”
Na época, eles publicaram o vídeo no YouTube e criaram um perfil para a escola em um site que busca voluntários.
“Durante alguns meses, levamos muita gente para trabalhar lá, para ensinar inglês, dar aula de arte, ajudar na horta. Foi gente do Japão, da Índia, dos EUA e de vários países da Europa.” A comunidade enfrentou alguns problemas, e decidiram suspender a iniciativa.
A ideia do casal é angariar meios para voltar a ajudar a comunidade.
“Por isso, a gente publicou de novo e viralizou desse jeito. Nosso sonho da vida é voltar para lá e rever essas crianças que já estão grandes”.
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