A imagem mostra o que parece ser um anel de fogo em meio à escuridão. Para os leigos, como eu, a fotografia poderia ser de qualquer “coisa” incandescente. Mas, não! Diante da tela do computador, eu via a primeira imagem real de um buraco negro no Universo. Antes, as figuras que já havíamos visto a respeito eram meras imagens conceituais.
Registrado pelo telescópio Event Horizon, o tal buraco negro, segundo notícia publicada pelo portal Uol, “fica a 500 quintilhões de quilômetros de distância da Terra – ou 53 milhões de anos-luz (unidade que corresponde à distância percorrida pela luz em um ano)”.
É impossível não se perguntar sobre a gigantesca extensão do Universo que habitamos e a nossa pequenez diante dele! Cada número relacionado a esse fenômeno é grandioso para a nossa imaginação: “sua massa é 6,5 bilhões de vezes maior que a do Sol do nosso sistema solar. Mede 40 bilhões de quilômetros de diâmetro, três milhões de vezes o tamanho da Terra!”, informa a mesma notícia do Uol.
E enquanto o Universo imenso nos circunda – ainda com tantos mistérios e grandiosidades – cá estamos nós, com os pés fincados na Terra, perplexos diante da capacidade humana de criar máquinas que fotografam buracos negros há milhões de anos-luz, e ao mesmo tempo, de disparar 80 tiros em um carro que transporta uma família rumo a um chá de bebê.
Ainda não foi possível dizer se e quais vidas existem pela extensão das galáxias, mas insistimos em acreditar que as pessoas têm menos valor pela cor da sua pele, que merecem menos cuidado ao considerarmos o lugar onde moram e que nossas crenças religiosas são mais verdadeiras do que as outras. Se o que chamamos de “Deus” criou essa imensidão, Ele realmente escolheria regras humanas para nos distinguir, com arrogância, uns dos outros? Se planetas e galáxias existem há milhões de anos-luz de distância, esse “Deus” – infinito em possibilidades – estaria preocupado com quem você se deita?
E ainda que não exista “Deus”, diante da magnitude planetária, todos esses comportamentos excludentes que enfrentamos em sociedade, fariam sentido?
Duas luzes incandescentes nos chamam a atenção: a do buraco negro e a da artilharia. A que está no espaço e a que existe sobre o nosso chão! Cada corpo e mente, habitando a Terra, com a capacidade de fazer – o melhor e o pior – pela vida em sociedade! Minha mãe diz “que, graças a Deus, existem mais pessoas boas que ruins no mundo” e eu deito e acordo com essa certeza! Mas, a lataria de um carro cravejado com 80 tiros, transportando uma família pelo bairro de Guadalupe, na zona norte do Rio, estapeia o meu rosto e a minha fé, por vezes, ingênua!
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Imagem: Divulgação/Twitter National Science Foundation
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