Quando um inseto gruda na teia, o pânico toma conta dele. Ele se move com todas as suas forças para tentar fugir, mas esses movimentos, que deveriam libertá-lo, na verdade o amarram ainda mais na teia e acabam sendo fatais à medida que avisam a aranha de sua presença.
Esse padrão também se repete em nossa vida. Às vezes nos tornamos prisioneiros de nós mesmos e, na tentativa de escapar, acabamos ainda mais enredados nas redes que construímos ao nosso redor. Criamos, sem perceber, becos sem saída, duplos laços psicológicos que nos mantém presos em uma situação que nos prejudica ou nos causa desconforto.
O duplo apego psicológico é uma situação em que quanto mais nos esforçamos para “resolver” um problema, mais o complicamos, quanto mais nos esforçamos para nos livrar de uma emoção ou pensamento, mais o reforçamos.
Alan Watts resumiu a ideia do duplo vínculo psicológico de uma maneira magistral: “criar um problema tentando resolvê-lo, lamentar porque um é afligido e temer o medo”. Nós mesmos criamos uma situação da qual não podemos ter sucesso, porque toda tentativa de escapar apenas reforça o problema ou cria novos obstáculos. Acreditamos que procuramos saídas, mas na realidade nos dedicamos a cobri-las.
As queixas são um exemplo perfeito para entender como o laço psicológico duplo funciona no nosso dia a dia. Os lamentos não apenas expressam um estado de descontentamento, mas também multiplicam as dificuldades, porque nos concentramos apenas nos obstáculos e nas consequências negativas do fato pelo qual nos queixamos.
Lamentar é como colocar uma bandagem preta nos olhos, querendo ver as cores do mundo. Ao desenvolver uma visão negativa do que aconteceu, somos impedidos de encontrar a solução porque nossa mente se torna uma fábrica de problemas. Quando nos ligamos a queixas, a tudo que deu errado e ao que pode dar errado, nos condenamos à imobilidade.
As queixas fazem com que, para o problema, devemos também acrescentar um novo problema que são nossas atitude diante das circunstâncias, mais a negatividade mental que nos impede de encontrar soluções. Por essa razão, lamentar se torna um beco sem saída, um empate psicológico duplo.
Obviamente, há muitas outras situações da vida cotidiana nas quais entregamos e algemamos.
Tal é o caso de pensamentos recorrentes negativos, por exemplo. Quando queremos remover um pensamento indesejado de nossa mente, a tentativa de parar de pensar nele ativa um mecanismo de hiper-vigilância que reforça esse pensamento ainda mais.
É uma batalha perdida antecipadamente porque caímos na armadilha que tentamos desatar. Quanto mais você tentar parar de pensar em elefantes cor de rosa, mais você vai pensar sobre eles. Toda vez que nos preocupamos com a preocupação, tememos a ansiedade ou ficamos deprimidos porque estamos tristes, estamos criando uma situação da qual é impossível escaparmos porque não podemos resolver um problema com a mesma mentalidade com a qual ele foi criado.
A chave, ou pelo menos uma delas, está na não ação ou no princípio de Wu-Wei; isto é, deixe tudo seguir seu curso natural. Se você não se esforçar para remover um pensamento da sua mente, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá, porque o curso natural da mente envolve saltar de um pensamento para outro sem se apegar a um deles em particular.
Um estudo realizado na Universidade de Wisconsin descobriu que as pessoas que tentam suprimir ativamente seus pensamentos indesejados acabam mais estressadas com os pensamentos que desejam eliminar. Pelo contrário, aqueles que naturalmente aceitam esses pensamentos intrusivos tornam-se menos obcecados por eles e, como resultado, sofrem menos ansiedade e têm níveis mais baixos de depressão.
Outro estudo mais recente realizado na Universidade de Toronto revelou que o mesmo princípio se aplica aos estados afetivos. Aceitar emoções negativas reduz sua intensidade, permitindo que nos movamos mais rápido e com menos sofrimento.
Portanto, se você não alimentar o medo do medo, a preocupação pela preocupação ou a tristeza pela tristeza, essas emoções acabarão desaparecendo, como se fossem nuvens arrastadas pelo vento. É uma aceitação radical, assumir uma atitude de distanciamento mental em que nos separamos da mentalidade que criou o problema, a fim de resolvê-lo.
TEXTO TRADUZIDO E ADAPTADO DE RINCON PSICOLOGIA
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